(. Avulsa.)

“Sou um móbile solto num furacão

Qualquer calmaria me dá solidão”.

(Moska)

Olha, eu sou avulsa sim e isso eu admito. Sou sozinha à procura nesse mundo de granito. Vou seguindo sustentada por pequenas alegrias. Vou levitando amparada por preciosas melodias. Sou miúda. Quase nada. Sou perdida no caminho. Sou confusa. Apurada. Afiada como espinho. Sou séria. Sou profunda. Mistura de todas em uma. Sou assim desapegada, dissolvida pela rua. Sou medrosa e me distancio com rapidez de importantes problemas. Me pego no meio da noite absorvida por gigantes dilemas. Passo longas horas ao telefone em conversas embrulhadas em papel celofane. Sou marinheira a olhar o mundo na solidão da proa. Sou a camaleoa de Caetano a procurar minha cama numa boa. Já me tranquei. Isolei. Já me perdi. Já me desesperei. Abdiquei. E não entendi o porquê dessa sina de ser avulsa e não corrente, o porquê dessa mania de sentir as coisas abundantemente. O porquê de ser assim. Solitária assim. Sensitiva assim. À procura do que vejo no outro e do que não está em mim. A percorrer estradas que muitas vezes parecem não ter mais fim. Me embriagando de beleza feito veneno. Minha função é confundir as pessoas neste mundo pequeno.

Crônica do livro “As Maravilhas do País de Alice”, Scortecci Editora, São Paulo, 2008.

Imagem de capa: Prawitcha Yata, Shutterstock



LIVRO NOVO



“Burila as palavras com a maestria de quem enxerga as veredas do ser como pontos de passagem, onde tudo é passível de transformação. Os sentimentos se entrelaçam, vão da risada escancarada à mágoa que mancha as horas com um encardido que não sai fácil. As palavras dela não saem fácil da gente, perpetuam-se nos recônditos espaços, proliferam sentidos e criam raízes fundas. A “Palavra” que estilhaça e esfuzia sentidos é a mesma que embala e cura a alma das mazelas cotidianas. Chega para sublinhar a sofisticação do simples, para propor o jogo poético das imagens que se entrelaçam desvelando tudo que vibra e faz vibrar. Fotógrafa, poeta, produtora artística e professora são algumas das nuances dessa carioca de alma furta-cor que vive suscitando diálogos entre os diversos campos artísticos e convocando à emoção, ao delírio ─ ao voo. Formada em História da Arte pela UERJ, Alice tem um livro publicado, “As Maravilhas do País de Alice”, pela Scortecci Editora, 2008”. Ester Chaves

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