“Sou um móbile solto num furacão
Qualquer calmaria me dá solidão”.
(Moska)
Olha, eu sou avulsa sim e isso eu admito. Sou sozinha à procura nesse mundo de granito. Vou seguindo sustentada por pequenas alegrias. Vou levitando amparada por preciosas melodias. Sou miúda. Quase nada. Sou perdida no caminho. Sou confusa. Apurada. Afiada como espinho. Sou séria. Sou profunda. Mistura de todas em uma. Sou assim desapegada, dissolvida pela rua. Sou medrosa e me distancio com rapidez de importantes problemas. Me pego no meio da noite absorvida por gigantes dilemas. Passo longas horas ao telefone em conversas embrulhadas em papel celofane. Sou marinheira a olhar o mundo na solidão da proa. Sou a camaleoa de Caetano a procurar minha cama numa boa. Já me tranquei. Isolei. Já me perdi. Já me desesperei. Abdiquei. E não entendi o porquê dessa sina de ser avulsa e não corrente, o porquê dessa mania de sentir as coisas abundantemente. O porquê de ser assim. Solitária assim. Sensitiva assim. À procura do que vejo no outro e do que não está em mim. A percorrer estradas que muitas vezes parecem não ter mais fim. Me embriagando de beleza feito veneno. Minha função é confundir as pessoas neste mundo pequeno.
Crônica do livro “As Maravilhas do País de Alice”, Scortecci Editora, São Paulo, 2008.
Imagem de capa: Prawitcha Yata, Shutterstock