A vida é vulnerável. Bem aventurados os que vivem sem medo da vulnerabilidade

A gente não quer sentir dor, mas a vida está aí para nos mostrar que tem suas próprias regras, e que a gente não tem domínio sobre quase nada. A gente não quer sentir desamparo ou rejeição, mas a existência não nos protegerá da perda ou da solidão. A gente não quer sentir que foi feito de trouxa, mas ninguém pode controlar a forma como as pessoas pensam ou agem a nosso respeito. A gente quer optar por ficar de fora do risco que a existência oferece, mas a vida é vulnerável. Podemos tentar amenizar os riscos e as incertezas, mas aquilo que precisamos compreender nos alcançará de alguma forma. A única coisa que podemos realmente fazer é perdoar a vida e nos sentir perdoados por ela quando algo não sai conforme o combinado.

Caio Fernando Abreu tem uma frase que gosto muito que diz: “Nada em mim foi covarde, nem mesmo as desistências: desistir, ainda que não pareça, foi meu grande gesto de coragem.” E essa frase faz muito sentido pra mim porque tentar, arriscar, estar vulnerável e se despir de máscaras é o maior ato de coragem que uma pessoa pode ter. E, mesmo que ela fracasse ou desista no final, ela não fracassou ou desistiu por covardia, e sim por ousadia.

A vulnerabilidade gera o risco de rejeição, e isso assusta. Porém, se você nunca tentar, se você nunca se permitir estar vulnerável, você também não terá a chance de se conectar verdadeiramente a alguém. Pois a conexão verdadeira só é possível quando as partes envolvidas se submetem – juntas – ao risco de estarem vulneráveis. Quando o risco de rejeição é igual para ambas as partes e elas decidem assumir esse risco lado a lado, a conexão se estabelece. Porém, quando só uma das partes corre esse risco, ela sempre carregará um sentimento de insuficiência ou rejeição consigo, e o melhor a fazer é se retirar da relação. Uma vez que você se retira daquilo que a incomoda, você se faz respeitada.

Bem aventurados os que vivem sem medo da vulnerabilidade. Os que entendem que estar vulnerável é se expôr ao risco da rejeição, mas também estar aberto ao benefício da conexão. Bem aventurados os que não acorrentam a própria alma pelo medo da exposição emocional. Os que mergulham na existência, e buscam consistência nas relações, entendendo que a doação é uma via de mão dupla. Bem aventurados os que não enxergam os sentimentos como fraqueza, e se expõem ao risco de amar e se tornarem próximos de alguém de forma clara e comprometida. Bem aventurados os que abraçam a vida e cultivam a empatia, a compaixão, a consideração e os vínculos, sem medo de que, ao demonstrarem sentimentos, possam ter a alma roubada. Bem aventurados os que não constroem muros em volta de si, reprimindo as próprias palavras e ações em prol de se protegerem da vida e dos afetos. Bem aventurados os que entendem que vulnerabilidade não é fraqueza, e sim coragem de viver a vida plenamente a partir de um sentimento de amor-próprio tão forte e genuíno capaz de se sustentar mesmo quando tudo em volta desmorona…



LIVRO NOVO



Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

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