Um estudo recente realizado pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor, conhecida como Proteste, revelou que consumir duas fatias de pão de forma pode ser suficiente para que um motorista não passe no teste do bafômetro. Esta descoberta alarmante trouxe à tona a necessidade de uma revisão nas normas de segurança alimentar.
Na quinta-feira, 11 de julho, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) iniciou um processo para avaliar medidas regulatórias sobre o assunto, visando proteger os consumidores, especialmente as crianças.
Resultados alarmantes
A análise da Proteste envolveu diversas marcas populares no mercado brasileiro. Entre as marcas testadas, Visconti, Bauducco e Wickbold 5 zeros apresentaram resultados que, segundo a Proteste, podem ser detectados em um teste de bafômetro. Outras marcas analisadas incluíram Panco, Seven Boys, Plusvita e Pullman. Apenas as duas últimas foram aprovadas em todos os testes de identificação de teor alcoólico.
Se os pães fossem classificados como bebidas, seis deles seriam considerados alcoólicos pela legislação, que determina um teor máximo de etanol de 0,5%. A marca Visconti apresentou um resultado mais de seis vezes maior do que o permitido. “As marcas deveriam conter o aviso ‘contém álcool'”, destacou a Proteste.
Além disso, se os produtos Visconti, Bauducco, Wickbold (5 zeros e Leve), Panco e Seven Boys fossem medicamentos fitoterápicos, estariam sujeitos a uma advertência alcoólica, caso houvesse uma legislação similar para essa categoria. Os níveis de álcool encontrados ultrapassam a dose permitida para crianças.
Por que há álcool no pão?
A fabricação de pães envolve a formação de álcool etílico, que geralmente evapora durante o processo de cozimento. No entanto, os níveis elevados encontrados na análise são atribuídos ao uso de conservantes diluídos em álcool para evitar o mofo e garantir a integridade do pão. “Embora a legislação brasileira permita o uso de algumas substâncias nos alimentos, é necessário que algumas normas sejam revistas para assegurar que o etanol residual não cause problemas aos consumidores”, destacou Henrique Lian, diretor-executivo da Proteste.
A Proteste enviou um ofício com os resultados do teste para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e para a Anvisa. A entidade sugere a implementação de um percentual máximo de álcool nos alimentos e a realização de ações de fiscalização quanto aos teores de conservantes e álcool, após a regulamentação.
Posicionamento das marcas
Wickbold e Seven Boys
O Grupo Wickbold, que detém as marcas Wickbold e Seven Boys, reforçou seu compromisso com a segurança e qualidade de seus produtos, seguindo rigorosamente todas as normas estabelecidas. “Como a fabricante não foi notificada sobre o referido estudo e a metodologia utilizada, não é possível qualquer manifestação sobre ele. Contudo, após ter acesso ao mesmo e à metodologia empregada, poderá prestar os esclarecimentos que se fizerem necessários, confirmando o legado de ética, transparência e respeito às pessoas que mantém há 86 anos.”
Bauducco e Visconti
A Pandurata Alimentos, responsável pelas marcas Bauducco e Visconti, também se pronunciou, destacando seus rigorosos padrões de segurança alimentar e a certificação BRCGS (British Retail Consortium Global Standard), reconhecida globalmente. “Priorizando a qualidade de seus produtos, a Pandurata respeita as Normas de Boas Práticas de Fabricação e destaca que seus cuidados começam com uma criteriosa seleção de fornecedores se estendendo por todas as etapas de produção.”
A CNN Brasil entrou em contato com a Panco e aguarda retorno. A Bimbo, responsável pelas marcas Pullman e Plusvita, que foram aprovadas nos testes, preferiu não se manifestar.