A primeira cena do filme Past Lives é curiosa e provocante. Sentados num bar, uma mulher divide sua atenção entre dois homens. Ora conversa com um; ora, com o outro. A fotografia e os gestos aguçam a curiosidade, e o espectador tenta entender quem é quem nesse jogo. Aos poucos, a história retrocede no tempo e o triângulo amoroso – sensível e com ares de nostalgia e melancolia – se esclarece. O filme todo é carregado de sensibilidade, silêncios repletos de significado, trocas de olhares e gestos que conduzem a narrativa numa dança de idas e vindas no Tempo e Espaço. No final, voltamos ao presente e descobrimos que Nora, a protagonista, tem que fazer uma escolha. Na realidade, ela está escolhendo o tempo todo, e isso também é uma reflexão que o longa traz.
Permaneci alguns dias com o filme na cabeça (talvez o roteiro ainda não tenha me abandonado) e tenho refletido bastante sobre as escolhas e renúncias de Nora que, de acordo com minha percepção, não poderiam ser reduzidas à resolução entre dois caminhos. Nora me ensinou que qualquer escolha, seja ela qual for, deve acarretar na decisão entre três caminhos: a escolha A, a escolha B e, finalmente, a escolha pela forma como eu quero me sentir ao decidir isso. E, talvez, descobrir como eu quero me sentir ao escolher o caminho X e renunciar ao Y, seja a decisão mais importante que eu precise tomar.
Ao decidir por um dos dois caminhos, Nora escolheu a si mesma. Ao colocar na balança os ganhos e perdas que teria com sua decisão, escolheu o caminho que a aproximaria mais de seus sonhos e possibilitaria ter mais paz e equilíbrio para gerir sua vida e conquistar o que desejava.
Quando tiver que escolher entre dois caminhos, escolha aquele que te possibilitará ter paz e equilíbrio para ir atrás de seus sonhos. Escolha aquele que te aproximará da sua melhor versão e não despertará gatilhos de ansiedade e angústia. A escolha certa nos poupa energia e facilita o nosso passo
Quando você verdadeiramente escolhe ter paz na sua vida, você descobre que essa paz necessitará de uma certa quantidade de adeus. E que essa é uma decisão em que você se prioriza e se escolhe acima de tudo.
Porém, será sempre assim. Em um dia você escolhe ter paz, no outro quer sentir borboletas no estomago e tamborim no peito. Em um momento decide que precisa se livrar de distrações e focar no objetivo, no outro quer esquecer as obrigações e encher a cara num bar. Em uma ocasião busca segurança e estabilidade, em outra arrisca a saúde mental em prol do mantra “só se vive uma vez”. Somos seres antagônicos, confusos e contraditórios. Acreditamos em destino mas queremos ter as rédeas sob controle. Num momento queremos que a vida nos leve, em outro decidimos que “vida leva eu” é coisa de gente irresponsável. Queremos um amor correspondido, mas nos entediamos com a rotina de uma relação duradoura. Almejamos reciprocidade, mas não conseguimos nem ao menos nos tratar bem. Convenhamos: a vida não anda em linha reta – e nem a gente. Então, de vez em quando, teremos que priorizar somente a nossa paz, principalmente quando tudo parecer confuso e caótico do lado de fora.
Às vezes, a decisão certa também pode doer. O caminho certo também pode ser difícil, cheio de contradições e desafios. A escolha correta também pode fazer você encher de lágrimas o travesseiro por algum tempo, mas depois que a poeira baixa e o coração recupera o fôlego, você percebe que está em paz.
E será essa paz que o aproximará de si mesmo e de seus sonhos.