Não leve para o lado pessoal. Nem tudo é sobre você.

Autoestima. Palavrinha que ganhou notoriedade nos últimos tempos, e carrega significados distintos. Há muita confusão por aí, e já fui vítima dessas confusões. Achava que se eu tivesse uma autoestima elevada, não permitiria certas atitudes direcionadas a mim. Porém, o que eu não percebia, é que nem tudo era sobre mim. E que, ao contrário do que eu pensava, minha baixa autoestima – agravada por doses de insegurança – fazia com que eu acreditasse que qualquer mínima coisinha tinha a ver comigo, ou significava que eu tinha feito algo errado para merecer aquilo, ou revelava que não era tão bem quista como eu esperava. Mas a verdade era uma só: nem tudo era sobre mim. E ponto final.

Não se pode confundir ser trouxa com “deixar pra lá”. A gente deixa pra lá quando percebe que nem tudo é sobre a gente, e o outro está travando batalhas internas que respingam mágoa e ressentimento em tudo ao seu redor. A gente é trouxa quando permanece relevando e compreendendo atos de desrespeito e desconsideração.

Por mais que você julgue conhecer alguém, você nunca saberá de verdade o que vai dentro do outro. Que lutas ele trava com a própria mente, que batalhas ele escolhe enfrentar com as próprias emoções, que gatilhos foram acionados naquela manhã. Por isso é preciso entender que nem tudo é sobre a gente. Não levar para o lado pessoal uma falta de resposta pontual; ou não desistir de tudo só porque ficamos confusos com a ausência da reciprocidade habitual.

Ser uma pessoa segura tem dessas coisas. Saber relevar. Saber que a perda é do outro, não sua. Não levar para o lado pessoal um deslize pontual, mas saber que seu valor não diminui pela incapacidade de alguém em enxergar isso.

Você é maior que uma mensagem lida e ignorada; você é maior que um story não visualizado; você é maior que a indiferença, o silêncio ou a falta de atenção de alguém. Não gaste sua energia tentando mudar atitudes alheias ou buscando entender onde foi que você errou. Construa, sim, uma couraça de autorrespeito e autopreservação, e invista sua energia na sua alegria e crescimento.

Não seja trouxa de permanecer em relações que te diminuem, mas saiba diferenciar o que são atos de desconsideração e o que são atos de desligamento da outra pessoa. Tenha uma autoestima tão elevada a ponto de sentir que aquilo não foi direcionado a você, ou não significa falta de amor – e sim está relacionado a questões íntimas do outro.

Por mais que pensemos ter o poder de controlar, não possuímos as rédeas de nada. Mesmo calejados pelas incontáveis vezes em que a frustração assolou nossas vidas, muitas vezes permitimos que a esperança de encontrarmos abrigo em outros corpos seja o fio condutor de nossos dias. Não nos damos abrigo, mas desejamos que o outro seja o nosso lar.

É libertador entender que as atitudes do outro, na maioria das vezes, têm mais a ver com questões dele do que com aquilo que ele sente por nós. É libertador perceber que muitas vezes projetamos em alguém algo que esse alguém nunca será, e que cabe a nós decidirmos se queremos ou não continuar.

Nos relacionamos com nossas projeções, e muitas vezes nos frustramos porque esperamos que a outra pessoa se comporte exatamente como imaginamos. E, pior do que isso, empurramos nossa autoestima ladeira abaixo quando algo não sai conforme o combinado. Entenda: nem tudo é sobre você, e se o outro não te valorizou como você gostaria, ele pode estar num dia ruim; não significa que você não tem valor.

Assim como o tímido carrega a enorme distorção de que todos estão observando-o, o inseguro compra brigas com quem acredita que está ignorando-o. O tímido é um envergonhado. E sua vergonha leva-o a acreditar que está sendo observado o tempo todo. Mas a verdade é que ninguém está nem aí. Já o inseguro, duvida de si mesmo. E sua dúvida leva-o a exigir reconhecimento o tempo todo. Porém, nem todos estão focados em aplaudi-lo.

A gente é trouxa quando aceita falta de reciprocidade, indiferença e desrespeito. A gente “deixa pra lá” quando entende que nossa energia merece ser investida em outros lugares, em conexões que tragam alegria e crescimento. A gente é trouxa quando se envolve em embates unilaterais e cobra atitudes que deveriam ser espontâneas. A gente “deixa pra lá” quando escolhe preservar nossa paz interior e entende que é melhor silenciar e se afastar a ter que verbalizar e cobrar.



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Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

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