Comecei o ano fazendo faxina na minha casa. Não foi uma faxina comum, do tipo que passa um pano no chão, limpa algumas janelas e deixa a louça em dia. Dei férias para minha ajudante, o marido viajou para cuidar do pai doente e aproveitei meus primeiros dias de descanso para colocar ordem na casa. Podei o jardim, comprei mudas novas que plantei em vasos, desmontei o quarto de brinquedos do meu filho (me senti a própria mãe do filme Toy Story…), lavei cortinas, troquei roupas de cama, mesa e banho, joguei fora peças quebradas, doei itens que já não fazem parte da minha vida “atualizada”. Foram 4 dias intensos de faxina, que mais pareceram uma reforma: da casa e de mim. Ao arrumar meu lar, me despedindo de peças que não fazem mais sentido e trazendo frescor para ambientes que carregavam pesos desnecessários, me senti mais leve.
A vida precisa de faxina. Assim como uma casa, precisa que ventilemos os ambientes, nos despeçamos do que não faz mais sentido, nos desapeguemos do que está quebrado e pode eventualmente nos machucar com suas quinas, pontas e lascas.
Não é saudável guardar objetos quebrados, aparelhos eletrônicos que não funcionam, roupas estragadas e produtos vencidos. Não acho que a solução seja simplesmente descartar; mas pelo menos reformar, consertar, reparar, reciclar. Da mesma forma, é preciso olhar para nossas vidas e não acumular: mágoas, sentimentos unilaterais, dores que não nos cabem mais.
Quando a louça está lavada e a cama arrumada, a gente raciocina melhor. Da mesma forma, só conseguimos ter mais clareza sobre nossa própria vida, nossos problemas ou nossas possibilidades quando adquirimos um certo afastamento que só é possível quando nos livramos de pesos desnecessários.
Faça faxinas: em casa e na vida! Organize prateleiras, realoje a importância de pessoas e acontecimentos, ensaboe tristezas e varra mágoas. Cole o que pode ser colado, remende o que permite ser remendado; e, acima de tudo, não sinta um pingo de culpa de se despedir de pesos mortos que só acumulam poeira e dor.
É incrível como seus textos tocam minha alma.
Há 5 anos atrás, eu havia lido “coincidentemente” o texto “O tempo de delicadeza”, numa época em que exatamente eu estava passando por tudo que aquele texto retratava.
E confesso que até, foi um alicerce de um dos motivos de eu ter permanecido em minhas raízes lá atrás.
E hoje, mais uma vez, o texto fala comigo como se conhecesse minha vida. rs
Parabéns, que trabalho lindo!