No último episódio da penúltima temporada de The Crown, durante o funeral da princesa Diana, seu filho William caminha ao lado do avô, o Príncipe Philip. Diante de uma multidão que grita pelos nomes dos filhos da princesa, o avô dos meninos aconselha: “Não reaja. Olhe para a frente ou para o chão. Concentre-se no ato de caminhar. Um passo de cada vez.”
A recomendação serve tanto para a caminhada fúnebre quanto para a jornada de luto que eles iriam enfrentar e que estava apenas começando.
Diante de uma perda avassaladora ou em momentos em que o chão parece ruir sob nossos pés, não há muito o que fazer. Enxugado o pranto, a única coisa possível é dar um passo de cada vez. E isso já é uma grande coisa.
É aos poucos que tudo se ajeita. Forçar sorrisinhos quando se tem vontade de chorar ou fingir que não liga quando se está profundamente magoado, é violentar o próprio espírito. Respeite sua dor. Tenha consideração com sua raiva. Tolere sua incapacidade de sorrir. As coisas vão melhorar, mas é um passo de cada vez.
Quando sair da cama for muito difícil, não pense nos emails que terá que responder, no ônibus que terá que pegar, no almoço que precisa preparar. Em momentos de dor, avance em pequenos passos. Lave o rosto. Tome uma xícara de café. Passe um perfume. Um passo de cada vez. Sem pressa. Sem se exigir tanto. Chore um pouco se precisar. Escove os dentes. Respire fundo. No dia seguinte, dois passos. E, acredite: Haverá um tempo em que não vai doer tanto.
No mesmo episódio de The Crown que citei no início, o Príncipe Charles precisa acordar as crianças e dar a notícia. Alguém o indaga: “Quando vai contar aos meninos?” e ele responde: “Eu quis deixá-los dormir. Adiar o máximo possível. Enquanto dormem, ainda têm mãe”
Nunca vi o tempo parar, apesar de ter tido vontade de congelá-lo muitas vezes. E quantas vezes não me surpreendi revisando os momentos, tentando encontrar o instante exato em que a vida me chacoalhou, o momento antes da pior notícia, a hora precisa em que a inocência de desconhecer o maior pesadelo me protegeu. Num instante, sorrisos. No momento seguinte, dor.
Assim como o tempo não para quando o abraço que você queria que fosse eterno se dissolve, ele também não para quando a dor te consome. Por isso é importante dar pequenos passos. Para sair da dor. Para não deixar ela se transformar em sofrimento. Para não permitir que o tempo congele a tristeza.
Respeite seu tempo de recuperação, mas não estenda um tapete vermelho à tristeza. Se proteja do que te fere, coloque limites ao que te adoece, mas não paralise sua vida por medo de sofrer. Dê um passo por dia, sem se cobrar grandes caminhadas. Chegará um dia que você perceberá que andou mais do que planejou, e celebrará a capacidade de cura e plasticidade da vida.