É preciso deixar as pessoas livres. É necessário construir uma existência em que os laços se formam naturalmente, delicadamente, como um cabelo bem trançado: sem rigidez, sem forçar os grampos, sem obrigar cada mecha a permanecer inerte às custas de muito laquê. Às vezes a gente deseja tanto manter os nós atados, que rompemos os elos, quebramos os vínculos, arrebentamos o penteado e despedaçamos as conexões.
É preciso deixar as pessoas livres para se afastarem ou se aproximarem; desobrigadas a mandar mensagens, livres para manterem os vínculos ou não. Algumas coisas devem ser espontâneas, nunca cobradas. Mas você pode aprender a dar um passo atrás quando alguém faz o mesmo, e a se desligar pouco a pouco quando não houver intenção de conexão.
Depois de algum tempo, você aprende a deixar as pessoas livres para sentirem sua falta ou desejarem estar ao seu lado. Você aprende a dar espaço para as coisas acontecerem, para terem saudade ou não de você, para a reciprocidade na comunicação ocorrer. Então você define – a partir daí – quem deve permanecer como prioridade e quem deve deixar de ser.
Quando alguém me ver indo embora sem olhar para trás, saiba que na verdade eu não deixei de olhar porque eu quis. É que olhei tanto, mas tanto, tanto, tanto para aquele lugar sem reciprocidade alguma, que o brilho no meu olhar se esgotou, e tive que partir – sem olhar para trás – para não se consumir minha última chance de ser feliz.
Alguns desencantos não causam raiva nem vontade de chorar. Eles apenas nos anestesiam por completo, e simplesmente perdemos a vontade de lutar.
E é nesse momento, em que invertemos as posições das peças como num jogo de xadrez, que percebemos que só devemos priorizar quem nos prioriza também; e que ninguém sai da nossa vida de uma vez; ao contrário, é aos poucos que as pessoas nos perdem a cada dia.