A vida de cada pessoa poderia ter infinitos desfechos

Adoro livros e filmes que refletem sobre a vida e suas inúmeras possibilidades. Não me refiro a livros de autoajuda; e sim ficções, crônicas ou mesmo biografias que, através de seu enredo fantástico ou não, me levam a ponderar sobre essa enorme colcha de retalhos que é a existência – com seus imprevistos, sustos, delícias, incertezas e sincronicidades.

“A Biblioteca da Meia Noite” é um desses livros. Na narrativa, Nora é uma mulher que, aos 35 anos, coleciona culpas e arrependimentos. Apesar de ser muito talentosa, teve pouquíssimas conquistas. Arrasada pela morte de seu gato e vendo pouco sentido em sua existência, ela tira a própria vida. Acorda, então, numa biblioteca. Lá, cada livro na prateleira representa uma história alternativa que ela teria vivido se tivesse feito outras escolhas. Assim, Nora tem a possibilidade de visitar qualquer versão de sua existência – descobrindo, assim, como teria sido viver de uma forma que valesse a pena. Porém, mais do que descobrir novas alternativas de vidas possíveis, a biblioteca leva Nora a mergulhar mais profundamente em si mesma, meditando sobre o mel e o fel de cada escolha; e levando-a a refletir sobre solidão, lembranças, expectativas, obediência, desejos, decepções, decisões e, mais além: sobre a impossibilidade de lutar contra aquilo que iria acontecer de qualquer maneira, independente de sua vontade ou suas ações.

Algumas coisas acontecem porque tinham que acontecer, e não importa o quanto você desejou o contrario, ou lutou contra, ou remou para o lado oposto. Há desfechos que não dependem da nossa vontade e, por mais que pensemos controlar, não controlamos. Muitas vezes a vida é mais forte que a gente. E mesmo que você se culpe ou se arrependa por algo que aconteceu ou deixou de acontecer, talvez não dependesse de você aquilo ter ocorrido ou não. O desfecho daquela situação já estava escrito, e suas ações (ou a falta delas) não alterariam nada.

Num trecho do livro, Nora diz: “a questão é que… o caminho que a gente considera o mais bem-sucedido a seguir, na verdade não é. Porque muitas vezes nossa visão de sucesso vem de alguma noção falsa e externa de conquista, seja uma medalha olímpica, o marido ideal, um bom salário. E existem todas essas métricas que a gente tenta alcançar. Quando, na real, o sucesso não é algo que se possa medir, e a vida não é uma corrida que se possa vencer”.

Quando acreditamos que fizemos uma boa escolha, ela é digna de ser considerada a escolha certa por quais motivos? Porque ela agradaria a nossos pais, ou seria perfeita para estampar nossas redes sociais, ou porque ela nos traz paz? Há motivos inconscientes que nos conduzem à uma decisão, mas sempre é tempo de refletir. Assim, por mais que acreditemos estar fazendo uma boa escolha, é preciso nos perguntar: o que está em jogo nessa decisão? Que tipo de sucesso almejamos alcançar e por quais motivos isso seria considerado sucesso? Será que ser feliz seria a forma mais autêntica de sucesso? Mas o que nos faria felizes: impressionar alguém com nossas conquistas ou realmente conquistar algo que nos desse prazer?

Muitas vezes, apenas seguimos o fluxo: da cultura de nosso tempo, da educação que recebemos, das mídias sociais, dos programas e músicas que consumimos… e pouco ouvimos a nós mesmos. Pouco escutamos a voz interior que – pasmem – se fosse ouvida, talvez escolhesse caminhos bem distintos àqueles que decidimos trilhar, e que só percorremos porque não fomos capazes de nos conectar – realmente – à nossa alma.

A vida de cada pessoa poderia ter infinitos desfechos, mas lamentar a vida escolhida e ficar sonhando ou se iludindo com a vida não vivida não ajuda em nada. Você está onde deveria estar, e a única coisa que é possível fazer nesse momento é tentar transformar o dia que virá.

Todos os dias começam com infinitas possibilidades, mesmo que a gente não enxergue claramente. Todos os dias temos a possibilidade de recomeçar, mesmo que a gente não perceba no momento. Assim, se posso dar-lhe um conselho, aprenda se ouvir mais. E faça suas escolhas alheio ao barulho do mundo, pois só quando silenciamos a cabeça podemos ouvir o coração.



LIVRO NOVO



Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

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