Não sei se foi por acidente ou um descuido meu, mas ando desconfiando que parei junto com o tempo. O tempo havia parado alguns dias antes de mim e todos os lugares, em todos lares. Eu só fui parar depois.
Na minha cabeça, eu estava parado faz tempo, mas só quando o tempo de fato parou que percebi o quanto estava em movimento. Agora, eu confesso que essa pausa forçada minha e do tempo está mexendo demais comigo. O dia e a noite se inverteram e a tarde parece mais um horário contado, tipo almoço de expediente.
Desde então eu pareço mais vagar e devagar. Estou perdido ou me encontrando? Pergunto pro meu coração e ele fica batendo e batendo. Não é a resposta que eu queria, mas é a que ele tem. Confuso, passeio por cada canto de casa, tentando descobrir uma nova rota, alguma passagem secreta. Mas é tudo a mesma coisa. Os mesmos cômodos, o mesmo tempo de travessia e travesseiro.
Às vezes eu tenho sonhos acordados e às vezes eu tenho vivido enquanto estou dormindo. E o tempo segue congelado, estático, eterno. E eu também vou seguindo os seus passos.
Queria caminhar por novos cenários, mas quais cenários poderiam ser? Tudo é igual em todos os lugares e lares. O tempo parou e acho que eu também.
Quanto tempo se passou desde a primeira linha?
Imagem de capa: Unplash – Yohann LIBOT
Esta é uma pausa indispensável para humanos que corriam demais, atropelavam pessoas e palavras e não sabiam ficar em silencio, esquecidos de rezar. Estão aprendendo agora e tomara não esqueçam que a viagem é para dentro, não para fora. Hora de se ver de verdade como se é sem os rótulos de embalagens coloridas, nem sempre condizentes com a ausência de conteúdo. Hora de pensar mais do que falar porque palavras demais não significam entendimento e empatia, apenas estresse e confusão. Alguns acharam um caminho para além de quatro paredes, aprendendo a enxergar na escuridão, galgando inexplorados universos, sensitivos que são. Estrelas brilham para eles mas para os outros, não.