Eu não sei como começar este texto sem dizer o quanto escrevê-lo é emocional. Ele não é uma crítica e nem uma análise mergulhada nos aspectos técnicos ou artísticos da produção. Talvez seja mais um relato pra lá de honesto, fruto da minha própria bagagem no que diz respeito ao amor e na forma como continuo, mesmo após tantos encontros, efervescente na tentativa de aceitá-lo livre, independente e, principalmente, mutável. Porque é assim que o amor é e pode ser. Você não consegue explicá-lo sem algumas doses de loucura, de imprevisibilidade, de muitas dúvidas e pouquíssimas certezas e até de dores. Muitas dores. Mas não o tipo de dor que te sufoca até você desistir da sua própria felicidade, mas da dor que te move a buscar algo mais. Nem que seja um terreno conhecido, onde você sinta o seu coração firme o suficiente para descansar, para se se apegar.
Sabe, eu exaustivamente escrevo e tento desvendar o amor. Há dias em que eu transbordo tanto sorrisos e penso na sorte que é poder sentir esse calor dentro de mim que chego a realmente acreditar num mundo melhor e menos complicado. Mas também tem dias em que o amor me faz chorar. Não de triste ou chateado com ele. Mas é aquele choro de inveja por dar de cara uma versão do amor que eu não conhecia. Talvez o ditado do gramado do vizinho ser sempre mais verdade também possa ser aplicado para o amor. Às vezes ele é tentador e super galanteador quando visto em outras histórias, em outras formas. E nessa curiosidade de querer saber como ele vive, respira e consegue passar por múltiplas adversidades e ainda consegue permanecer no imaginário das pessoas, é a zona na qual eu fico paralisado e admirado. O amor é coisa séria no meu coração. Sempre foi. Não sei teve algum momento na minha vida do qual o amor não tenha sido essencial. Além das experiências que já vivi e dos relacionamentos que passei, existe o amor. Eu apenas estou entre isso tudo. Ou no meio. Depende do tempo, depende do amor.
Modern Love gritou no meu ser visões e versões do amor que eu conhecia, mas até então não havia me conectado. A série desconstruiu aquelas poucas certezas e plantou diferentes dúvidas a respeito do meu olhar sobre o amor. E foi tão bom. É tão bom, melhor dizendo. Ainda tenho o rosto inchado, mas urgente pra vida depois de terminar de assistir os oito episódios com duração de mais ou menos trinta minutos cada. Ainda reflito nas palavras e no coração o que significou o amor para todos nós que vivemos, diariamente, algum tipo de chamado que é vibrante e ao mesmo tempo assustador. São amores que partiram, amores que não duraram, amores que não estavam nos lugares que achávamos, e sim nos lugares que não reparamos. Amores aqui e ali transformáveis e transformados em histórias, em risos, em desculpas, em despedidas, em reencontros, em recomeços. Amores orgânicos e ilusórios misturados com a nossa concepção.
Mas calma. Não estou tentando romantizar o amor. Pelo menos não na sua forma passiva e problemática. Até porque não considero esses tombos amor. Nem pensar. Eu me recuso a considerar algum relacionamento tóxico, abusivo, manipulador, invasivo, prejudicial e mais uma infinidade de palavras com sentidos horríveis como sendo amor. O amor não merece vir acompanhado de nenhuma, sim, nenhuma dessas definições. É preciso mente aberta e coração receptivo para o amor. É o único processo possível para começar a desfrutá-lo.
Logicamente, a sua reação e relação com o amor é particular, individual. Além de ter o seu próprio tempo, claro. Só que a maturidade é comum para qualquer pessoa disposta para o amor. E maturidade não tem a ver com idade. Maturidade é mais uma percepção da alma, da energia que emanamos e absorvemos. Maturidade tem a ver com intimidade, sinceridade e honestidade. Eu sei, parece loucura e complexo demais para entender. Eu não poderia concordar mais. Contudo, faço uma provocação: se fosse fácil teria o mesmo sabor?
O amor pode ser fácil nos gestos e nas coisas que falamos para os outros mas, eventualmente, o que conta é a nossa força, a nossa capacidade e disponibilidade para reconhecer o amor nas entrelinhas e também na rotina. Nem tudo no amor é surpresa e aventura. Nem tudo no amor é novo e excitante. Mas tudo no amor é cumplicidade e passagem. Cumplicidade interior, resgatando e apoiando quem somos e quem queremos mostrar para o mundo. Enquanto isso, o amor figura na passagem do trânsito das milhares de conversas e aprendizados que temos em nossas vidas.
Modern Love me fez notar que o amor não é um véu que separa as pessoas e que necessitamos identificar às vezes, com muito custo, quem está do outro lado e se essa pessoa vai encaixar naquilo que queremos. Pelo contrário, o amor está mais para que quisermos que ele seja. Sendo saudável e deixando cultivar em nós bons sentimentos, pouco importa pra onde ele vai a seguir. A marca do amor que vale a pena compartilhar é feita no exato instante em que decidimos parar de negá-lo, especialmente quando se tratar de somá-lo no morar de alguém.
Obs: A abertura da série é uma das coisas mais lindas que eu já assisti em toda a minha vida.
Disponível pela Amazon Prime