Perceber uma pessoa querida vivendo um relacionamento abusivo nos causa uma série de sentimentos conflituosos. Causa muita indignação ver uma pessoa cheia de atributos intelectuais, físicos e morais sendo tratada como se fosse um entulho, pior ainda é perceber a passividade dessa vítima, aceitando tudo sem nada questionar e ainda demonstrando muito temor em perder o seu algoz a quem ela refere-se como “amor”.
As vítimas de relações abusivas, no geral, são vistas como pessoas que “não têm vergonha na cara”. Costumamos avaliar as pessoas pelo o que elas apresentam externamente. Diante de uma pessoa bonita e culta, tendemos a acreditar que ela é dona de si e que faz sempre as escolhas mais sensatas. Contudo, não é bem assim que a coisa funciona. Possuir um elevado nível intelectual não é garantia de independência emocional. Esses dois atributos, não são, necessariamente, vinculados.
Inteligência emocional e autoestima não são adquiridos nas cadeiras das universidades. Obviamente, uma pessoa esclarecida intelectualmente e com independência financeira terá menor vulnerabilidade nesse contexto, já que ela não terá a dependência econômica como um fator que venha a dificultar a ruptura de um vínculo nocivo.
A forma como uma pessoa se comporta num relacionamento afetivo é o reflexo da forma como ela se percebe, e de como ela aprendeu sobre os relacionamentos observando sua família nuclear, na prática. No geral, são pessoas oriundas de contextos familiares tóxicos. Crianças que presenciam o pai agredindo a mãe, por exemplo, tendem a internalizar que esse comportamento é aceitável entre os casais, elas vinculam o amor à dor, de certa forma. Depois de adultas, mesmo adquirindo esclarecimentos teóricos sobre a forma saudável de se relacionar, o que elas presenciaram com os pais, terá um peso gigante. Contudo, esse quadro não é irreversível, a vítima pode, sim, desconstruir o conceito nocivo de amor e adotar um conceito saudável de relacionamento, a psicoterapia é uma excelente ferramenta para auxiliar nesse processo.
A vítima de uma relação abusiva é alguém adoecido emocionalmente. A capacidade de discernimento dela está comprometida. Ela precisa de empatia, não de julgamento.
Foto de Tamara Bellis no Unsplash