Eu conheci uma mulher incrível há 20 anos, ela era muito culta, bem-sucedida e bonita, porém, disse em alto e bom tom num evento que se sentia “um cachorro sem dono” por não ter um marido. A mulher que conduzia o grupo começou a fazer perguntas sobre o motivo daquele sentimento. Ela respondeu que aprendeu com a mãe, que apesar de analfabeta e bem idosa, exercia total influência nas escolhas dela.
Ali, ficou claro para mim que independência financeira e bom nível cultural não são, necessariamente, garantias de inteligência emocional e autoestima.
Aquela mulher, cheia de atributos, condicionava o seu valor ao fato de ter ou não um parceiro. Ela deixou claro que nada do que ela conquistara fazia sentido diante do fato de estar solteira depois dos 30. Ela mencionou que não visitava os pais no interior do Ceará há muito tempo, por sentir-se envergonhada de chegar lá sem um homem a tiracolo. Ela sentia-se bombardeada pelas cobranças da família sobre isso.
A reunião era um grupo terapêutico, a mulher desnudou a alma ali, e chorou bastante. Ao que parecia, ela já não sabia separar as expectativas dela das expectativas dos pais. Ela assumiu, perante o grupo, ser uma analfabeta emocional, apesar dos vários títulos acadêmicos que possuía. Ela sentia-se em dívida com os pais por não ter dado um genro a eles e, consequentemente, netos.
Aos prantos, ela confessou que sua vida estava norteada por uma grande ansiedade de encontrar um marido para “esfregar” na cara da família. Ela havia se agarrado à promessa de só voltar à terra natal comprometida, no mínimo, noiva.
Aquela mulher era uma presa fácil, alguém muito vulnerável para se envolver com qualquer traste só para provar que não era uma “cachorra sem dono”. Hoje, com o meu olhar psicológico, percebo isso claramente.
Eu sempre me lembro dela, apesar do tempo decorrido. Torço para que ela não tenha se arrebentado tentando responder às expectativas da família. Espero que essa não seja a realidade de nenhuma das minhas leitoras.