A gente cresce sabendo que não se conquista muitas coisas na vida sem alguns arranhões ou cicatrizes. Eu já comecei esse texto umas cinco vezes, e sempre achava vazio até ter recentemente vivido mais uma daquelas pequenas decepções com o universo, decepções de quem é intenso e espera o melhor sempre que abre uma frestinha na porta do coração.
A gente cresce sabendo que amadurecer, se apaixonar, viver histórias incríveis sempre tem um preço, e às vezes dói e por isso passamos a ficar mais retraídos, tímidos e desconfiados. Por medo das quedas a gente passa a viver evitando os riscos. A gente não se permite mais deixar as pessoas entrarem em nossas vidas, por mais carregadas de boas intenções que estejam.
A gente cresce sabendo que é preciso evidenciar nosso amor próprio, nossa felicidade individual, mas às vezes isso vira uma semente de egoísmo dentro da gente que vai dominando nosso peito a ponto de nos tornar quase imunes as coisas boas que o amor pode nos trazer. A gente se fecha e não deveria. A gente diz que não tem tempo pro amor.
A gente cresce sabendo que o amor machuca às vezes. Foi vendo o amor passar tantas vezes, na falta de esforço pro encontro, no vazio que se instala, no hiato cada vez mais longo entre as conversas, na distância que se faz maior do que é, no “se”, que mora com a gente. A gente cresce enfiando um monte de crenças na nossa cabeça que não deveria.
A gente cresce, acha que sabe tudo e a gente para de ouvir a intuição muitas vezes. A gente para de ouvir o coração. A gente se afasta, se acostuma, esfria, para até de sorrir. É preciso se permitir, experimentar, é preciso permitir se entregar sem calcular ou medir. A gente cresce sabendo um monte de coisas, mas, definitivamente, a gente não cresce sabendo amar.
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