Há uma frase linda, atribuída a Marcos Luedy, que diz: “As mães nunca morrem. Elas entardecem, tingem de nuvens os cabelos e viram pôr do sol”.
Estive refletindo sobre essa frase recentemente, depois que um amigo perdeu a mãe repentinamente. É difícil consolar alguém numa situação dessas, ainda mais se nunca passamos por isso. Mas imagino que, com o tempo, essa falta se transforme em algo mais suave e suportável, semelhante à descoberta de que as mães não morrem, elas continuam vivas dentro de nós, nos gestos, nas características que herdamos e principalmente no olhar que é nosso, mas que a partir desse momento também carregará um tanto da percepção e sensibilidade delas.
Lidar com a ausência, com a dor dilacerante proveniente da falta, com o vazio que resta e que não pode ser preenchido por nada, é difícil e assustador. Mas então, num dia inesperado, talvez a gente entenda que as coisas não acabam, elas se transformam. E com as mães não poderia ser diferente. Mais que importantes, elas são matrizes do tecido de que somos feitos. Mais que necessárias, são um eco dentro de nós nos lembrando o caminho a seguir. E mesmo aquelas que não geraram, emprestaram a seus filhos características que ajudaram a construir quem eles se tornaram. Isso não se perde quando elas partem. Sempre residirá naquele emaranhado de histórias, manias, gestos e percepções, se somando às experiências vividas e adquiridas, mas permanecendo e resistindo como memória viva e indestrutível.
Minha mãe tem o belíssimo costume de fazer livros de memórias para seus netos. Em cada página, um pedacinho de si mesma e de seu afeto por eles e por nós, seus filhos. Esses cadernos decorados serão herdados pelas nossas crianças e perpetuarão a memória de minha mãe no futuro. Porém, muito além da garantia dos cadernos, ela permanecerá viva pela forma como toca cada um de nós: com amor, alegria, generosidade e compreensão. Enquanto nós vivermos, essas sensações jamais serão perdidas.
As mães nunca morrem. Elas se afastam, e a neblina das primeiras horas encobre o que antes era visível e palpável. Dentro de nós, antigos sons chamando para o jantar ou contando histórias antes de dormir nos dão a certeza de que, mesmo que se diga que tudo passa, elas não passarão. O que acontece é que elas se transformam. Vão entardecendo e sendo encobertas, mas caminharão para sempre junto de nós, na alma e no coração.
*Compre meu livro “Felicidade Distraída” aqui: https://amzn.to/2P8Hl2p
*Imagem: ‘Paisagem na Neblina’, filme do diretor grego Theo Angelopoulos – Via Google
As mães nunca morrem e os filhos também não. Nem os pais, os avós e os irmãos, ainda bem que não morrem, porque somos ETERNOS. Deixa-se na Terra o corpo perecível, a veste desgastada e rota, que já serviu mas que não serve mais para quem neles habitou mas se mudou dali. Transitória, impermanente, finita e passageira, a casa que ocupamos foi deixada, assim como vai-se, da gaiola, feliz, a ave libertada para espaços maiores, infinitos e perenes, sedenta de amplidão. As mães nunca morrem, nem mesmo morrem as mães dos animais e os passarinhos, nem mesmo o perfume das flores e o odor da primavera. Em Outra Dimensão estão os que foram embora, para o local de onde vieram e onde moravam antes de nascer. E, que bom que não findamos, como findam as cascas de banana, as raspas de madeira e os frutos corrompidos porque, para muito mais do que isso nos criaram; não somos o “nunca mais”, somos o “para sempre”.
Que lindo, Sandra!