Por Fabrício Carpinejar
O rompimento da barragem de Brumadinho(MG) aconteceu muito antes, na ausência de fiscalização. É culpa da política, não da natureza. O morador e o rio são vítimas da mesma ganância.
Não é um erro, mas um crime. Não é um criminoso, mas já é caso de um serial killer.
Em menos de quatro anos, repete-se em Brumadinho a ruptura de uma barragem de rejeitos de mineração que já devastou Mariana. Ainda não foram pagas as indenizações de 200 famílias que perderam as casas e novas famílias mineiras são postas para fora de suas propriedades.
As diferenças com tsunami da Indonésia é que os nossos poderiam ser evitados, controlados, previstos. Vem do maior lucro com o pior material, da economia podre de proteções de baixo custo e de resistência.
Presencia-se uma avalanche silenciosa de lama. Não tem nem como ouvir. É um maremoto provocado pela troca de privilégios e favores.
Em Mariana, foram 19 mortos e dezenas de desaparecidos. Em Brumadinho, até descobrir quem morreu leva tempo de escavação, as notícias vão esfriar.
Ou seja, a vítima é enterrada duas vezes. Só no Brasil a pessoa é enterrada duas vezes.
Viramos barro junto. Choramos barro junto. Nossas crenças sólidas são levadas pela correnteza, não existe como a água suja não entrar em nossos olhos para sempre, ao testemunhar pais buscando desesperadamente alçar os seus filhos do fundo da terra, animais escorregando e tentando resistir inutilmente.
Do lado de lá, impunidade. Do lado de cá, impotência.
Pela exploração inadequada de nossas riquezas, tem o sopro da vida roubado por simplesmente residir próximo de mineradoras que se julgam seguras.
Sem contar o aumento da turbidez da bacia hidrográfica (Rio Paraopeba), com impactos no abastecimento de água. Sem contar os danos culturais ao reduto de Inhotim (o maior museu a céu aberto do mundo, hoje evacuado). Sem contar a extinção de espécies, e prejuízos à atividade pesqueira e turística. Sem contar o desemprego e o despejo.
Somos um país em que museus queimam pelo descaso, cidades são soterradas pela vista grossa, e não há a quem pedir socorro.
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Abaixo, a publicação original