Quando um raio de sol atravessa a janela e risca, discreto, a parede esquerda do quarto, eu sinto como se Deus me tocasse com a ponta dos dedos. Repouso meus olhos sobre aquele pedaço iluminado como quem descobre, perplexa, como é pequena diante de tudo. O sol, tão imenso, fragmentado dentro da casa de cinco cômodos ou da mansão à beira mar, secando com o mesmo empenho a pétala da orquídea rara e as folhas da erva daninha que crescem resistentes no buraco da calçada. O mesmo sol que nasce no Sudão e no Canadá e que queima a pele de russos e argentinos. Esse astro agigantado, e ao mesmo tempo, fragmentado… Bem ali, se exibindo na parede da minha casa.
Então, corro os dedos sobre o risco luminoso e sinto o craquelar da parede e o calor em minhas mãos. Sinto-me viva e com desejo de viver! Tenho vontade de caminhar por estradas rurais e mergulhar em águas mornas. São tantas as vontades e são tantos os sonhos vindos por essa luz! Mas, quando dou por mim, a claridade recua, certamente se embrenhando em outras paredes. Talvez, um homem distraído não perceba e uma mulher ocupada não dê valor, mas uma criança certamente a notará! Irá meter o rostinho negro diante do raio de sol na parede e gritar:
– Olha, mãe!!
E a mãe sorrirá, mas sem prestar muita atenção.
E então, o mesmo raio de sol irá sair dali também. Mas, se alguém cruzar a rua ou caminhar até um mirante, irá vê-lo imenso e alaranjado no final de uma tarde de primavera. A mesma luz frágil da parede se exibindo grandiosa no céu, falando sobre as pequenezas do nosso ser diante do Universo.