Por Isabela Nicastro – Sem Travas no Coração
Desde criança, mentira nunca me agradou muito. Odiava me sentir enganada pelos adultos, que falavam uma mentirinha de leve para esconder algo que menores não podiam saber. Eu também não costumava mentir. Pelo contrário, era sincera até demais. Lembro-me de uma vez ter chegado em um conhecido do meu pai, que estava em uma roda de amigos e dito que ele era péssimo no truco. Afinal, era isso que eu ouvia em casa. No fim, acabei não entendendo o porquê de ter constrangido a todos com a simples verdade.
Pois é, a verdade, às vezes, pode ser constrangedora. E aqui, longe de falar sobre mim, trago esse pequeno exemplo que reflete o quanto eu, você e todos nós odiamos ser enganados. Seja sobre a nossa performance no truco ou sobre qualquer outra razão mais importante. Preferimos a verdade, por mais que ela doa, por mais que nos envergonhe.
No amor, então, a mentira é como uma bomba-relógio. A cada ato mentiroso, colocamos em risco o sentimento. Quando a bomba finalmente explode, é inevitável sair machucado, ferido, sangrando. Além disso, a mentira é cumulativa e progressiva. Quem mente uma vez por coisa simples, provavelmente, vai mentir outra por algo ainda mais grave. Já quem perdoa uma, duas, três vezes tende a viver esperando pela próxima, desconfiado e sem paz.
A lealdade que esperamos com os relacionamentos se quebra facilmente a cada pequena mentira. Ao estar presente, a mentira transforma dois amantes em loucos. O que mente acredita na própria mentira e constrói uma trama em que até ele mesmo tem dificuldade para dissolver. Já quem recebe a mentira, enlouquece diante da contradição entre fatos, atos e o que se ouve. É tortura psicológica para ambos, indícios de que a bomba está prestes a estourar.
Portanto, apesar de dolorosa, a verdade não confunde, não maltrata, não enlouquece. Ela está ali, nua e crua, basta que seja dita. E, apesar das consequências, somente a verdade tem força sobre a possibilidade de perdão. Só ela é capaz de desativar a contagem regressiva para o fim de um relacionamento. Afinal, ninguém, em qualquer hipótese, deseja conscientemente explodir a própria felicidade.
Fonte indicada: Sem Travas no Coração