Cuidado com o silêncio, ele geralmente é interpretado como o “bom moço”. Contudo, ele é bem mais complexo do que possamos imaginar. Ele se apropria dessa máscara de sabedoria e benevolência, mas, em muitas situações, ele é a própria tradução da perversidade. Discorda? Permita-me explicar.
Eu tenho certeza de que você já viveu ou conhece alguém que já passou por uma experiência semelhante a esta: alguém foi promovido no trabalho, ficou louco de felicidade e saiu distribuindo a sua euforia entre os colegas, amigos e familiares. Daí, ao invés de ser acolhido em sua alegria extrema, foi recebido com um silêncio por alguns. Sabe aquele silêncio que te constrange e que te faz sentir-se inadequado? Aquele silêncio que te faz sentir-se ridículo mesmo? Então, esse silêncio não é um “bom rapaz”, trata-se do porta-voz da inveja. Sim, a inveja possui uma equipe a seu serviço, e o silêncio é um dos mais competentes integrantes desse time.
O que o invejoso não consegue entender é que o silêncio dele grita ao ponto de ensurdecer quem está por perto. Grita a amargura e a frustração de não saber lidar com a felicidade alheia. Berra o desconforto de ser um acomodado e não lutar por nada. A inveja é tão maldita que agride mesmo em silêncio.
Existem silêncios perversos, sim, senhor. Por vezes ele pega carona em diversas virtudes, na tentativa de enganar e se passar pelo politicamente correto. Ele costuma fantasiar-se de educação, quando na verdade é pura hostilidade. Veste-se de discrição, quando na verdade está expressando um descaso. Maquia-se de respeito quando na verdade está representando a omissão. Enfim, dentro do armário do silêncio existem inúmeras fantasias, que ele usa e abusa e até consegue enganar em determinados contextos. Existe perversidade maior do que alguém que você acredita ser seu amigo ficar em silêncio enquanto assiste outras pessoas falarem mal de você pelas costas? Pois é, esse tipo de silêncio para mim é uma baita covardia.
O silêncio maldoso não quer poupar nada nem ninguém, pelo contrário, ele quer humilhar, que diminuir, quer constranger e quer ferir. É um verdadeiro balde de água fria na empolgação de alguém. Talvez por perceber que a felicidade nos expõe a pagar mico. Uma pessoa feliz não estará muito preocupada com o tom de voz adequado ou com um caminhar elegante. Pelo contrário, quem está feliz gargalha, faz barulho, anda desajeitado, dança no meio da rua…canta enquanto dirige. E isso para uma pessoa mal resolvida e infeliz é um verdadeiro tapa na cara.
Por fim, lhe faço um pedido: não se constranja diante dos silêncios perversos. Se compartilhar uma alegria e perceber que o outro emudeceu, silencie também e pense melhor sobre quem poderia vibrar contigo. Desista de entender o motivo que levou essa pessoa a fazer cara de paisagem diante da sua conquista. Se você for alguém espiritualizado, ore por ela, seguramente, ela está precisando de luz. Sempre haverá alguém que vai se alegrar com a sua felicidade, ainda que seja um estranho que você encontra numa fila de supermercado e compartilha a sua alegria com ele.
Olá! A impressão que eu tive lendo seu texto é que você se ressente muito com a escuridão alheia. Todos ao seu redor têm suas luzes e sombras, inclusive você. Todo ser humano é composto de luzes e sombras, do melhor e do pior.
Então imagine que você passe no primeiro concurso que você fez ao passo que a sua amiga está há anos tentando passar em um. É natural que ela se sinta frustrada consigo mesma ao descobrir que você foi aprovada e essa frustração se manifeste através do silêncio. Cabe a você Procurar alguém que possa compartilhar toda essa alegria sem se ressentir com quem, por algum motivo, não está disponível para isso.
Provavelmente você encontrará essa disponibilidade em quem, por exemplo, já tenha passado em algum certame ou em quem não tenha tido um número de reprovações suficientes para se frustrar. Agir assim é sabedoria. É maturidade.
Quanto a um amigo presenciar pessoas falando de você pelas costas e não se manifestar a seu favor, é compreensível que você fique chateada, mas a verdade é que todos nós temos nossos próprios interesses. Se essa pessoa não se manifestou, foi porque preferiu proteger os próprios interesses a defender um amigo. Isso aconteceu até com Jesus quando Pedro o negou após ele(Jesus) ter sido preso.
O motivo de Pedro ter negado Jesus foi o medo que sentiu de sofrer as mesmas represálias que seu mestre. Foi um ato de covardia? Com certeza! Mas quantas pessoas estão dispostas a sofrer consequências como ser agredido por agentes do Estado, como Pedro poderia ter sido, para se manter leal a uma relação?
Então se posso lhe sugerir algo, pare de praticamente querer que o outro lhe preste apenas o seu melhor, que sempre a ilumine com suas luzes. Aprenda a lidar com as sombras do outro também. Caso não consiga, simplesmente tenha a sabedoria de se afastar sem ressentimentos. É um tanto pueril deixar de curtir a própria alegria em sua totalidade somente porque o outro não sentiu a mesma vibração. Acontece! As pessoas são assim, até as que amamos: em alguns momentos elas nos tratarão com suas luzes, em outros com as suas sombras.
Jesus percebeu isso. Por isso, quando ressuscitou, mandou chamar Pedro.
Gostaria de deixar aqui um link de um texto do psicólogo Frederico Mattos, que tem um texto brilhante sobre inveja. http://www.sobreavida.com.br/2011/08/12/18-maneiras-de-identificar-a-inveja-no-cotidiano-nao-leia-esse-texto/ Espero que, caso você tenha interesse em lê-lo, ele possa te ajudar a administrar melhor o sentimento de inveja alheio.