De todos os sentimentos e encontros que já vivi, nenhum me trouxe um peso de aprendizado maior do que o ato de pertencer. Mas pertencer num significado mais profundo. É sobre ter consciência e aceitação pelas qualidades e falhas com as quais lido dentro do meu ser. Porque pertencimento, nas minhas mais recentes descobertas, quer dizer não encolher os sonhos do coração. Então luto, diariamente, para me pertencer de um jeito que desistir de mim não seja uma opção.
Tem dia que acordar é uma luta na qual não estou preparado. Que preciso fazer um esforço descomunal para não desmoronar, para não olhar para os lados e entregar os pontos. Que nem mesmo com o dia ensolarado ou com as belezas da vida saltando em frente aos meus olhos consigo acreditar no caminho que mereço, no potencial emocional que tenho. De vez em quando me pego pensando em como seria deixar o tempo correr e só ficar observando, e esperando, as consequências do mundo ao meu redor. Talvez fosse tão mais fácil respirar, seguir e viver o restante da semana, do mês, da vida.
É em momentos cinzentos como estes, é quando o meu interior soa desesperançoso e sem poder de reação, que a realidade vem à tona: o coração deve continuar a bater. Eu tenho que revirar as minhas dores, as minhas cicatrizes e a minha implicante autossabotagem e não desistir de tudo. Posso desistir dos relacionamentos incertos e dos caminhos traiçoeiros, mas de quem posso me tornar, das coisas que posso alcançar? Não, não mesmo.
Porque me pertencer não é só uma questão de encontrar o meu lugar no universo, ou mesmo de saber o meu papel sobre as vidas que toco e participo. O pertencimento que aprendi a valorizar veio através da resiliência, do apego e do respeito próprio. E ainda que acordar e até dormir seja uma tarefa dolorida às vezes, desistir de mim não martela mais nos meus pensamentos. É um começo para cada novo sorriso.