O mundo precisa de mais compaixão. No entanto, a maioria de nós se limita a sentir pena, esse sentimento passivo através do qual nos limitamos a sentir tristeza por quem sofre de carências, por quem é forçado a deixar seu país, por quem vive no último grau de nossa sociedade. No entanto, o compassivo é o único que assume um sentimento ativo, o único que faz o possível para reduzir o sofrimento de outras pessoas.
Algo que é curioso em nosso dia a dia é o grande desconforto que a palavra “compaixão” desperta. Ninguém gosta, por exemplo, de despertar compaixão, porque de alguma forma isso mostra uma certa desvantagem, uma certa dimensão que não nos coloca no mesmo nível de oportunidades que o resto. No entanto, a transcendência muda se nos referirmos a esse termo dentro de uma estrutura budista.
“A pena não custa nada, mas também não vale nada. Precisamos de mais compaixão.
-Josh Billings-
Neste último caso, a compaixão é uma ferramenta excepcional que nos permite várias conquistas. A primeira é ver o mundo a partir de uma visão mais humana, afetuosa e sensível. Além disso, adiciona-se o compromisso autêntico de querer aliviar essa dor, de fazer todo o possível para reparar essa desvantagem.
Por outro lado, também temos uma dimensão muito necessária que é, sem dúvida, a autopiedade. Também devemos ser pró-ativos com nossas próprias carências e necessidades.
Em suma, não é suficiente sentir pena. Ver quem sofre e se limitar a se colocar em seu lugar por alguns momentos para compartilhar de suas tristezas, e depois se afastar para esquecer à distância. Precisamos de ação, vontade e compromisso com os outros, mas também com nós mesmos, com a realidade interna que às vezes negligenciamos e não atendemos.
Mais compromisso, mais compaixão
Muitas vezes deixamos de lado a grande implicação psicológica que determinados termos têm. Assim, a palavra “pena” esconde em suas duas sílabas dimensões tão curiosas quanto marcantes. Dessa maneira, há quem se arrisque a dizer, por exemplo, que quando sentimos essa emoção, aplicamos a empatia mais básica: somos capazes de nos conectar com o sofrimento dos outros, sabemos que dói, que faz sofrer, e qual é o impacto sobre a sua situação pessoal.
No entanto, sentir pena de alguém não é apenas empatia. Nós também aplicamos um sentimento de superioridade. Há uma evidência que nos separa do outro: pode ser o status, a cultura, a economia e, inclusive, a distância física própria da nossa espécie quando sentimos pena por um animal.
Por outro lado, temos a compaixão, essa palavra que por si só já nos dá uma pista sobre como atua. Essa palavra vem do latim ‘cum passio‘, e poderia ser traduzida como ‘sofrer juntos‘ ou ‘lidar juntos com as emoções’. Como vemos, aqui as distâncias são eliminadas para estabelecer uma proximidade de igual para igual, na qual um se envolve com a dor do outro, mas com um propósito muito claro: nos comprometermos com ele para melhorar sua situação. Desta forma, podemos concluir que a compaixão responde à confluência de três componentes básicos:
O emocional: nos conectamos com o sofrimento dos outros de forma ativa ao sentir uma motivação, um desejo expresso de gerar bem-estar.
O cognitivo: ao perceber a dor dos outros a avaliamos para, depois, definir a necessidade de desenvolver um plano de ação.
O comportamental: a decisão de implantar uma série de ações para resolver a situação complicada da outra parte.
A empatia não é o mesmo que a compaixão. A maioria de nós tem empatia com as emoções dos outros, no entanto, essa conexão nem sempre leva à mobilização. A compaixão também implica apresentar um sentimento mobilizador, uma ação que parte das emoções, mas que busca um objetivo definido: melhorar a situação do outro.
Compaixão, um instinto que devemos recuperar
O mundo precisa de mais compaixão, mais pessoas que não se limitem a contemplar a dor dos outros, mas que empregam meios (dentro de suas possibilidades) para gerar uma mudança positiva. No entanto, como dissemos no início, essa palavra ainda tem uma implicação um tanto complexa e desconfortável em nosso vocabulário. Não gostamos que as pessoas tenham pena de nós. Na maioria das vezes, somos, inclusive, relutantes em receber ajuda de outras pessoas.
No entanto, como vários cientistas explicam em um estudo da Universidade de Berkeley (Califórnia), devemos ser capazes de recuperar esse “instinto primário”. A compaixão seria a resposta natural e automática que nos permitiu sobreviver como espécie.
Já foi demonstrado que crianças de dois e três anos de idade apresentam comportamentos compassivos em relação a outras crianças sem necessidade de receber qualquer tipo de recompensa por isso. É uma reação, um tipo de resposta que infelizmente tende a desaparecer com o tempo em muitos casos devido ao nosso condicionamento social.
Como curiosidade e para finalizar, vale a pena destacar uma informação que o Dr. Dachner Keltner, do estudo acima mencionado da Universidade de Berkeley, ressaltou. A famosa frase “apenas os mais aptos sobrevivem”, atribuída a Charles Darwin, não seria, na verdade, do famoso autor de Origem das Espécies. Essa ideia, essa frase, foi dita por Herbert Spencer e os darwinistas sociais, que desejavam justificar a superioridade de classe e raça.
Charles Darwin enfatizou algo muito diferente. De fato, como ele mesmo explicou em seus textos, as sociedades que aplicavam mais a compaixão eram as que tinham maiores chances de evoluir. Em suas próprias palavras: “Os instintos sociais ou maternais como a compaixão são melhores do que qualquer outro. As comunidades que incluem um número maior de membros compassivos prosperam mais, porque essa característica favorece a sobrevivência e o florescimento de nossa espécie”.
Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa