Um dos maiores medos que ela tinha era o de ser deixada. E naquela altura o que mais ela estava sentido era que esse seu medo havia se concretizado. Ela não se sentia mais bem-vinda, não se sentia mais amada, não se sentia mais necessária. Ela havia percebido que seu lugar não era ali com aquelas pessoas que outrora se disseram suas amigas. Ela um dia havia se sentiu acolhida, especial e importante, mas quando se lembrava desses tempos os enxergava cada vez mais distantes apesar de que há poucos dias tudo estava bem. Ela ficava passando em sua mente o momento em que as coisas mudaram. Ela ficava evocando memórias de quando mostrou seu descontentamento com o fato de seus amigos se mostrarem mais bem entrosados entre eles quando estavam sem ela.
Sabe o que mais doía no coração dessa menina? Sentir que não fazia a menor diferença ela estar ali ou não. Na verdade, que quando ela não estava envolvida com aquele circulo eles pareciam mais á vontade, mais felizes e mais dispostos a conversar sobre qualquer coisa que não a incluía. Ela foi sendo deixada de lado, não mais sendo chamada nas conversas, ficava apenas ouvindo e observando a postura daquelas pessoas diante do seu silêncio. Na cabeça dela eles não se importavam. Não estavam mesmo nem aí para a sua voz que se calou e o seu rosto que transparência tristeza. Pareciam insensíveis a sua dor do abandono e não mostravam se importar com a sua abrupta mudança de comportamento.
Enquanto o que ela queria era que apenas perguntassem o que estava havendo, que quisessem saber o que provocou tal transformação e o que poderiam fazer para suavizar aquele clima que estava pesado demais. Que se interessassem por seu silêncio e que arrancassem dela os motivos que a levaram a ficar assim tão de repente. E tudo isso fez com que ela não se sentisse mais amada e começou a pensar que eram amigos dela apenas porque se sentiam obrigados ou porque não queriam deixa-la sozinha pelos cantos. Mas que não eram amigos porque compartilhavam de coisas em comum e nem porque ela era essencial como o vento é para formar as ondas do mar. Enquanto ela queria ser querida pelo que era e desejava sentir que sem ela aquele grupo não seria mais o mesmo.
Contudo, o que essa moça não sabia, e que doeu quando descobriu, é que ela mesma havia causado tudo isso. Ela acabara se vitimando inconscientemente e estava tentando fazer com que os outros percebessem o que haviam lhe causado. Ela queria que eles vissem o quanto a tinham ferido e que fossem pedir desculpas por isso. Ela desejava que eles fossem atrás dela e que se interessassem por sua dor que estava estampada em seu rosto. Porém ela mesma havia criado essa distância. Ela que se afastou, ela que se calou, ela que não sorria quando eles sorriam para ela, ela que não respondia quando eles tentavam puxar assunto. Era ela que novamente havia criado um muro em sua volta para se proteger e desejava que as pessoas derrubassem ou escalassem esse muro para salva-la dela mesma.
Pois por mais que eles fossem diferentes dela e que poderiam sim continuar aquela amizade sem ela, pois eles compartilhavam de muitas coisas em comum, até mais coisas do que ela tinha a lhes oferecer, ela sentia que eles a queriam ali mesmo assim, por mais que não tivesse quase nada a dar além de si mesma. Nisso ela reconheceu novamente que quando um ou mais relacionamentos, sejam com a família, amigos ou com um par romântico, não estão bem isso afeta todas as áreas da vida. Pois um dia ela ouviu o Espírito Santo de Deus lhe dizendo que os seres humanos foram criados para o amor e para o relacionamento, e que quando eles não se sentiam amados e se sentiam sozinhos isso feria o motivo de suas existências. Pois sem amor e sem relacionamentos o que sobra para o ser humano? Nós somos seres sociáveis, vivemos em sociedade e construídos nossa vida com a interação com os outros. Assim viver sem amor e na solidão deixa a vida sem sentido. Ademais, faz com que ela fique muito pesada para ser carregada e pode desencadear diversos problemas emocionais.
Portanto, o que ela mais precisa fazer é abrir o coração para seus amigos e lhes dizer como se sente diante de tudo isso. Falar a eles como isso a afetou e como está se sentindo mal porque ela se viu não mais amada e sozinha. Mas ela também precisa saber perdoar tanto os outros como a si mesma, e pedir perdão por sua imaturidade que bagunçou tudo e por ter ferido as pessoas com sua atitude fria, grosseira e indiferente. E ainda reconhecer que ela mesma provocou tudo isso, pois foi seu ciúme, medo de ser abandonada, o pensamento de que não era necessária, de que eles não se importavam com seus sentimentos, o bloqueio que a impedia de se aprofundar na relação, além de sua incapacidade de lidar com relações que ficam intimas demais, que iniciou toda essa avalanche de sentimentos ruins que tanto quebraram seu frágil coração.
Aonde a raiz do problema é o medo da rejeição e de ser deixada de lado quando o que ela mais quer é estar no meio das pessoas sorrindo, compartilhando sonhos e escrevendo uma história que vai durar anos. Mas que ela não estava mais fazendo nada disso porque havia se afastado. Quando Deus em sua infinita bondade havia dado amigos a ela para que a amassem, cuidassem e se importassem, mas ela estava ainda tão ferida por seu passado que se deixou vencer pelos machucados e acabou ferindo quando ela havia sido chamada para curar, para cuidar e para amar. Porém ela esqueceu que não deveria se tornar quem a feriu e que precisava se abrir mais, confiar mais, se doar mais nos relacionamentos ao invés de esperar que apenas os outros fizessem isso por ela. Pois uma relação é uma troca, onde você dá uma parte sua e recebe de volta uma parte da outra pessoa.
E que ela não permita que esse tipo de pensamento desajustado volte a morar em sua mente, pois o que pensamos afeta nossos sentimos e gere nossos comportamentos como é dito em Provérbios 4:23: “Seja cuidadoso com o que você pensa, porque seus pensamentos dirigem sua vida.”. Pois de acordo com a sua crença, ela acredita que o Criador de tudo deseja que ela se sinta amada profundamente por Ele, pois ela é sim especial por seu jeitinho diferente, por seu humor irônico, sua vontade de ajudar as pessoas em seus momentos difíceis e por sua sensibilidade. Acredita que Ele a ama apesar de conhecê-la por inteiro mesmo sabendo de seus tantos defeitos, o que Ele não julga, mas a ajuda a melhorar. Pois todo ser humano necessita de uns reparos e tem algo em seu caráter a ser mudado para que conviva melhor com Deus, consigo mesmo e com os outros. E que haverá sim pessoas que também a amarão com esse conjunto imperfeito de qualidades e defeitos.