No último dia 27 de maio, um vídeo gravado na capital francesa figurou entre os mais vistos da internet. Nele, um homem rapidamente escala quatro andares de um prédio, apenas com a força dos braços, para resgatar um menino pendurado do lado de fora da sacada. O herói “homem-aranha”, como foi chamado por diversos jornais, era Mamadou Gassama. Imigrante de Mali de 22 anos, Mamadou vivia em um abrigo em Paris e, ao se deparar com a cena, ele agiu sem pensar duas vezes para salvar o garoto.
A repercussão do caso foi tanta que impressionou até o presidente da França, Emmanuel Macron. Após o ato de heroísmo de Gassama, Macron resolveu conceder nacionalidade francesa ao africano.
Isso foi algo que levou muitos a reverem suas noções de generosidade, especialmente em um mundo tão guiado pelo individualismo e egocentrismo. Arriscar a própria vida por outra pessoa, sem esperar nada em troca, é algo que pode suscitar uma discussão sobre o altruísmo, reiterando sua existência e definição.
Afinal, Gassama acabou se beneficiando com a sua ação no final. Ele estava como imigrante ilegal na França e sua situação acabou por ser regularizada. Isso, de toda forma, não anula o valor de seus atos, já que ele não poderia imaginar o que aconteceria após fazer o bem pelo próprio bem como essência.
Tomemos outro exemplo, como o dos membros do Underwater and Rescue Team (Time de pesquisa e salvamento subaquático), uma equipe de voluntários de mergulho na Ilha de Man. Eles consistem em um grupo de pessoas que arriscam suas vidas para realizar buscas aquáticas e fazer recuperações de pessoas desaparecidas que eventualmente caem nas águas frias desse pedaço de mar próximo à Irlanda.
Essas pessoas, cujas idades variam entre 20 e poucos e mais 60 anos, se reúne quando necessário e coloca a própria vida em risco para salvar outras. Eles não têm obrigação nenhuma, já que isso não consiste em profissão. Tampouco recebem por isso, já que é uma instituição de caridade. De toda forma, continuam a fazê-lo.
Seriam estes moradores preocupados com o bem-estar de turistas ou pessoas que buscam apenas um desejo de aventura? Para isso vamos voltar à definição de altruísmo. Este termo foi usado pela primeira vez pelo filósofo positivista Auguste Comte para designar o oposto do egoísmo.
Embora muitos usem o altruísmo como sinônimo de solidariedade e generosidade, o altruísmo descreve um conceito mais amplo. Ele está ligado à dedicação de alguém ou de um coletivo em benefício de outrem, mesmo que isso envolva um sacrifício de sua parte. Outra característica desse conjunto de disposições humanas é sua habitualidade, não consistindo somente de uma ação isolada, mas de uma conciliação contínua do bem-estar de alguém com o daqueles a seu redor.
Sem adentrar muito nas definições estritas da filosofia, outros campos do conhecimento também já discorreram sobre o assunto, como a ciência e biologia. Segundo alguns estudos, esse tipo de comportamento pode ser visto em alguns animais. Em alguns casos, é algo que colabora na manutenção da espécie.
Já outras pesquisas sugerem que existe uma predisposição genética ao altruísmo. Sendo assim, alguns teriam naturalmente uma tendência maior a realizar, digamos, “boas ações” do que outras pessoas, dependendo de sua formação fisiológica. Mas, segundo o mesmo estudo, um ambiente e educação propícios e voltados ao ensinamento da generosidade também impactam em seus atos futuros.
De um ponto de vista darwiano, a um primeiro olhar o altruísmo não seria muito benéfico para o ser, já que ele arriscaria sua vida ao se colocar em perigo para ajudar um companheiro. Entretanto, se considerarmos que o material genético é compartilhado entre sua espécie, sendo bastante próximo em seres da mesma família, esse tipo de atitude de ajudar o próximo é interessante para a manutenção dele. E isso é o que interessa para a seleção natural, a sobrevivência de seu DNA. Então pode-se afirmar, biologicamente falando, que de fato o altruísmo tem uma origem egoísta.
Sem nos aprofundarmos muito nesse mérito, na prática, o importante e relevante para o ser humano como sociedade na prática é disseminar e perpetuar cada vez mais esse tipo de comportamento. Como já discutimos em um artigo anterior, temos o potencial tanto para fazer o bem como para agir de forma maldosa, e o que irá nos definir será nossas escolhas e ações no dia a dia.
Claro que é quase impossível agir corretamente em 100% dos casos, mas no final, se o balanço for positivo, se nossas ações permeadas pela preocupação com o próximo e nossas intenções forem as melhores, isso já faz a diferença para o crescimento da sociedade em um todo. Afinal, desenvolver sentimentos de empatia e solidariedade pode não ser a coisa mais intuitiva para algumas pessoas, mas com certeza, quaisquer forem suas motivações, eles trarão benefício, seja em retorno para você, ou para o bem daqueles a sua volta.