A invalidação familiar é um processo que ocorre com bastante frequência. Ela surge em entornos em que uma ou várias pessoas criam um tipo de dinâmica insana com a qual boicotam a autoestima de seus filhos. Faz-se uso da desqualificação, da comunicação passivo-agressiva, da manipulação emocional, e de maus-tratos invisíveis que deixam uma ferida permanente.
Os especialistas em terapia familiar sistêmica dizem que toda criança invalidada corre o risco de ser, no futuro, um adulto invisível. São pessoas que foram levadas a acreditar desde muito pequenas que suas necessidades não são importantes, e mais, que suas identidades ficaram tão diluídas que mal chegaram a formar um sentido autêntico do “eu”.
“Todo mundo tem feridas dolorosas enterradas em seu coração. Eles conseguem seguir em frente, pois com o tempo se tornam insensíveis à dor.”
– Kim Bok Joo –
Assim, poderíamos dizer que estamos diante de um tema tão sério quanto esquecido por uma boa parte dos pais. Daremos um exemplo. Ana tem 9 anos e passa o dia zombando, beliscando e empurrando sua irmã mais nova, Carla. Enquanto a primeira é inquieta e zombeteira, a menor é reservada e muito tímida.
Cada vez que Carla chora e procura sua mãe para pedir ajuda, ela responde sempre a mesma coisa: “Você precisa resolver isso, mamãe está ocupada e não pode ficar sempre em cima de você”. Esta situação que, para muitos, pode ser inocente, esconde várias caraterísticas perigosas. A invalidação da mãe neste caso é dupla, e as consequências são muito sérias.
A primeira, porque a mãe não considera as emoções de sua filha menor. A segunda, porque a mensagem que é passada para essa criança é muito simples e direta: “Estou ocupada, resolva isso, resolva seus problemas você mesma”. Assim como podemos intuir, uma infância marcada por este tipo de dinâmica incapacitante pode deixar uma marca profunda na idade adulta.
Da invalidação familiar à invalidação pessoal
A invalidação familiar é uma forma de negligência emocional e, portanto, uma das formas de maus-tratos sutil mais perigosas. Marsha Linehan, uma conhecida especialista em transtornos mentais e na terapia dialética comportamental, explica em seus trabalhos que este tipo de interação gera conflitos muito graves na mente infantil.
Pensemos, por exemplo, em um bebê que quase nunca foi atendido à noite cada vez que começava a chorar. Agora imaginemos essa criança aos dois anos, com uma birra terrível diante de pais exasperados porque não sabem como manejar essa criatura. Poucos anos depois, reclamam porque ele ainda não sabe amarrar os sapatos, porque é lento para se vestir, para comer e para se expressar… “Você é bobo e sempre chora por nada” são as duas frases que esta criança mais ouviu durante seus seis primeiros anos de vida.
Toda esta situação se cristalizará na personalidade da criança de modos muito diversos. Por exemplo, a doutora Linehan explica que a invalidação familiar gera, cedo ou tarde, a invalidação pessoal. Se desde o início as necessidades emocionais da criança foram ignoradas e ela foi taxada como uma criança que “sempre chora por nada”, cedo ou tarde ela acabará se invalidando ao interpretar que as emoções são negativas, que é melhor escondê-las, engoli-las à força.
Ainda e não menos importante, o que também costuma ocorrer em muitos casos é a profecia autorrealizada. Se desde pequenos ouvimos que não chegaremos a lugar algum, que isso não é para nós, que aquele sonho é impossível, que na partilha de talentos ficamos com a pior parte, é muito provável que acabemos interiorizando tudo isso como um mantra venenoso.
Quebrar o efeito da invalidação familiar não só é possível como também necessário. É possível sobreviver a isso quando validamos a nós mesmos da forma como merecemos.
Validando a nós mesmos na idade adulta: o diálogo interno
As terapias familiares e sistêmicas devem muito à teoria da comunicação humana de Paul Watzlawick. Tanto ele quanto outros especialistas do “Mental Research Institute” deram forma a um foco excepcional que foi chave para o futuro da terapia familiar e a melhor compreensão destas dinâmicas complexas.
Dentro deste marco, por exemplo, fez-se referência às técnicas de desqualificação, um tipo de comunicação vazia, daninha e em ocasiões até agressiva, onde a mensagem que se envia ao outro contribui para invalidá-lo e gerar mal-estar. Agora, algo que os psicólogos puderam comprovar, como a doutora Lineham, é que a criança que foi desqualificada/invalidada em sua infância cria na idade adulta um diálogo interno baseado também na própria desqualificação.
Processos como a autocrítica, as atitudes limitantes, a indecisão, o sentimento de culpa, o medo constante e um monólogo reiterativo onde não há amor próprio, contribuem para perpetuar a desqualificação, quase como um fogo amigo com o qual nos destruímos ainda mais…
Não vale a pena. Se no passado foram os outros que, com seu estilo de criação, educação e comunicação, causaram todo este dano em nossa identidade e autoestima, não sejamos herdeiros dessa dinâmica, não sejamos nossos próprios inimigos.
Validarmos a nós mesmos é possível mas, para isso, é preciso mudar nosso diálogo interno. Devemos falar com nós mesmos com respeito e amabilidade, nos tratar como seres valiosos, pessoas que ainda têm muito pela frente e que já se cansaram do título de “você não consegue, você não sabe ou você não merece“…
Agora é a sua hora de poder lidar com tudo!
Fonte indicada: >A Mente é Maravilhosa