“Um facho de luz na escuridão da tempestade” por Dzongsar Khyentse Rinpoche

Como detectar a natureza búdica em meio a tanta ignorância, escuridão e confusão? O primeiro sinal de esperança para um marinheiro perdido no mar é avistar um facho de luz na escuridão da tempestade. Ao navegar em sua direção, ele chega à fonte de luz, ao farol. O amor e a compaixão são como a luz que emana da natureza búdica. No começo, a natureza búdica é um mero conceito muito além da nossa visão, mas se gerarmos amor e compaixão um dia conseguiremos caminhar em sua direção. Pode ser difícil enxergar a natureza búdica daqueles que estão perdidos na escuridão da ganância, do ódio e da ignorância. A natureza búdica dessas pessoas é tão distante que parece inexistir. Entretanto, até as pessoas mais sombrias e violentas têm lampejos de amor e compaixão, ainda que breves e tênues. Se esses raros vislumbres forem nutridos e se for investida energia para seguir na direção da luz, a natureza búdica dessas pessoas pode ser revelada.

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Além do amor e da compaixão, existe um sem-número de caminhos disponíveis que nos levam mais perto da compreensão da natureza búdica. Mesmo se entendermos apenas intelectualmente a bondade fundamental do ser humano e de todos os demais seres, esse entendimento já nos aproxima da natureza búdica. É como se tivéssemos esquecido onde guardamos um anel de diamante precioso, mas pelo menos sabemos que está dentro de um porta-jóias, e não perdido na vasta encosta de uma montanha.

Embora empreguemos palavras como alcançar, desejar e rezar em referência à iluminação, em última análise não conquistamos a iluminação a partir de uma fonte externa. Uma forma de expressão mais correta seria descobrir a iluminação que sempre existiu. A iluminação faz parte da nossa verdadeira natureza. A nossa verdadeira natureza é como uma estátua de ouro que ainda está dentro do molde, e o molde é como os obscurecimentos e a ignorância. Assim como o molde não faz parte da estátua, a ignorância e as emoções não constituem uma parte intrínseca da nossa natureza, e por isso podemos falar em pureza original. Quando o molde é quebrado, surge a estátua. Quando os obscurecimentos são removidos, a nossa verdadeira natureza búdica é revelada. É importante, contudo, compreender que a natureza búdica não é uma alma ou essência divina verdadeiramente existente.

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Quando Sidarta se iluminou, passou a ser conhecido como Buda. Buda não é o nome de uma pessoa; é a designação de um estado mental. O termo buda denota uma qualidade que tem dois aspectos: “realizado” e “desperto”. Em outras palavras, aquele que purificou os obscurecimentos e aquele que alcançou o conhecimento. Ao atingir o estado de realização debaixo da árvore bodhi, Buda despertou da visão dualista e do emaranhado de conceitos que a acompanha, como sujeito e objeto. Ele entendeu que nenhuma coisa composta pode existir de modo permanente. Ele entendeu que nenhuma emoção leva à felicidade, se provier do apego ao eu. Ele entendeu que não há um eu verdadeiramente existente, nem fenômenos verdadeiramente existentes que possam ser percebidos. E ele entendeu que mesmo a iluminação está além dos conceitos. Esse entendimento é o que chamamos a “sabedoria de Buda”, uma conscientização da verdade em sua totalidade.

Texto extraído do livro “O que faz você ser budista?“, de Dzongsar Jamyang Khyentse.
OBS: artigo publicado primeiramente nos nossos parceiros da Revista Pazes – via Buda Virtual



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Blog oficial da escritora Fabíola Simões que, em 2015, publicou seu primeiro livro: "A Soma de todos Afetos".

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