Quando foi que nos tornamos tão covardes?

Quando foi que desistimos de nós, que deixamos pra lá? Em que dia exatamente perdemos a fé um no outro e aceitamos conviver com o vazio, com o medo? Deixamos de nós, aos poucos deixamos de lado tudo aquilo que seríamos por que fomos covardes, porque não tivemos coragem de nos entregarmos a esse surto que foi nosso encontro. Eu e você sabemos que não foi só o acaso, que não fomos só mais um na vida do outro. Fomos feito dois ventos fortes que se encontram e geram as tempestades.

Antes de tudo, do toque, da presença, minha voz já tinha ganhado tua melodia, teu jeito de sorrir enquanto fala já tinha me deixado desarmado, perdido em ti. Eu quero crer que foi o amor insistindo na gente, com o destino olhando pra nós com aquela cara de quem diz: __eu tentei juntar vocês dois. Mas, o que vivemos nos deu preguiça e deixamos eu, teu sorriso, tu, minha voz; nos deixamos antes de ser. Não dá pra negar que foi o amor insistindo, o número que você anotou e perdeu, teu sorriso outra vez numa história qualquer, passeando pela minha timeline só pra me bagunçar.

Era o amor insistindo na gente e nós, fomos covardes. Quando foi que isso aconteceu? Quando foi que essa tua “pseudo” liberdade falou tão mais alto que a euforia do nosso beijo? Quando foi que eu que não tenho medo de nada lavei as mãos, cruzei os braços e não te peguei forte pra dizer que eu estava aqui pra tudo, pra cuidar de tudo que viesse com você? Quando foi que deixei de escrever o futuro, preso no escaldo de um passado que já deixou o eco invadir minha casa. Somos lembranças que não acontecerão, somos fotos que nunca serão impressas, somos viagens que não vão ser feitas, somos a ausência um no outro. Quando foi que a gente desistiu da gente?

Seguimos sorrindo pra todo mundo, vazios por dentro. Dá preguiça de falar o que tá passando dentro da gente, e aí, é mais fácil dizer que está tudo bem, mesmo que a gente saiba que talvez esteja, mas nem tanto. Nós deixamos o amor ir embora aos poucos, porque nos apressamos demais em julgar, e demoramos muito pra pedir perdão. Seguimos “milhões de vasos sem nenhuma flor”, vestidos de um tanto faz, se der deu, se não der, a gente já se acostumou, não é? Quando foi que nos tornamos tão covardes? Quando foi que deixamos de abrir a porta pro amor, que já bateu, que já insistiu tanto na gente?



LIVRO NOVO



Giovane Galvan é taurino, apaixonado e constantemente acompanhado pela saudade. Jornalista, designer, produtor e redator, escreve por paixão. Detesta futebol e cozinha muito bem. Suas observações cotidianas são dramáticas e carregadas de poesia. Gosta do nascer e do pôr do sol, da noite, mesas de bar e do cheiro das mulheres pra quem geralmente escreve. Viciado em arrancar sorrisos, prefere explicar a vida através de uma ótica metafórica aliando os tropeços diários a ensinamentos empíricos com a mesma verdade que vivencia. Intenso, sarcástico e desengonçado, diz que tem alma de artista. Acredita que bons escritos assim como a boa comida, servem de abraço, de viagem pelo tempo e de acalento em qualquer circunstância.

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