Quem me dava energia era o mesmo que me roubava

Por Isabela Nicastro – Sem Travas na Língua

Eu não cogitava viver sem você. Não só não cogitava, como não poderia já que, a partir do momento em que eu acordava, todos os meus pensamentos eram direcionados a você. Eu esperava o seu bom dia, o nosso almoço, o momento em que nos veríamos novamente à noite. Eu precisava de você para tudo, para me ajudar a escolher uma sandália na loja, para me ajudar a viver. Você era meu apoio, minha sustentação.

Isso que eu chamava de amor era cada vez mais dependência. E quanto mais eu dependia de você, mais você fugia. Fugia de mim, fugia de você mesmo. Auto sabotava-se e me enlouquecia. Eu amava, mas desconfiava. Amava, mas me sentia insegura. Amava, mas me incomodava. Amava, mas…E nessa de querer te ajudar, te cuidar, nos salvar, eu perdoava. Juntava os cacos, curava as feridas, que ainda sangravam e insistia em recomeçar.

No entanto, a cada recomeço, que no fundo nunca recomeçaram nada, eu deixava um pedaço de mim. Seguia inerte, engolindo mágoas, minha história, minha personalidade, meu eu. No final, eu já não mais sofria, já não mais chorava, já não mais brigava. Meu corpo respondia com dores nas costas, infecções, baixa imunidade. Precisava me afastar para ganhar forças, contudo, entendia que, se me afastasse, não teria forças para continuar.

O amor era tanto que não queria enxergar que a mesma fonte que me alimentava de energia era a mesma que me roubava toda ela. E só consegui me deparar com essa verdade quando consegui romper as amarras e manter a distância do que só estava me fazendo mal. Faz quase três meses que não te vejo. Apesar de achar que ia morrer no primeiro mês, eu sobrevivi. A falta de você, ao invés de tirar a minha força está me fortalecendo.

A cada dia eu resgato em mim algo que estava perdido. Um velho hábito, algo que eu gostava e que há muito tempo não fazia, um problema que eu preciso resolver, mas que agora é meu, só meu. O foco sou eu e isso é assustador e, ao mesmo tempo, libertador. Tenho tempo para olhar de perto meus problemas, qualidades, dificuldades e confusões. Pela primeira vez, eu sou meu próprio apoio e sustentação. Prazer, sou minha própria fonte de energia!

Fonte indicada: Sem Travas na Língua

Imagem de capa: sergey causelove, Shutterstock



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Capricorniana, 23 anos, jornalista. Apaixonada por mar, cães e cafés da tarde em família. Não dispenso bacon e muito menos uma boa história. Meu coração é intenso e grita mais do que a razão. Tenho o sentimento como guia e a escrita como ferramenta.

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