Não sei ao certo se essa é uma percepção equivocada da minha parte ou se faz sentido também para você, caro(a) leitor(a). Tenho percebido que o excesso de tecnologia não tem favorecido o campo dos relacionamentos. Há uma ideia de que esse leque de opções disponíveis para as pessoas interagirem favorece bastante para quem deseja, por exemplo, iniciar uma paquera.
Contudo, na prática, a situação destoa bastante do que as pessoas idealizam. Vou contextualizar o que penso para melhorar a sua compreensão. Tenho uma colega que conheceu um rapaz por um aplicativo de relacionamentos há mais ou menos três meses. Eles trocaram telefones e, desde então, têm se falado diariamente por mensagens. Aparentemente, eles têm tudo para formar um casal bacana, as afinidades, ao que parece, saltam aos olhos. Vi a foto do rapaz e, pude constatar que eles formariam um casal perfeito do ponto de vista estético.
Ocorre que a colega está extremamente interessada no rapaz, e parece existir uma reciprocidade considerando os conteúdos da mensagens trocadas e a frequência dos contatos que eles fazem. Entretanto, tudo fica no plano virtual, eles ainda não se conhecem, apesar de morarem na mesma cidade. Ela diz que sempre que sugere um encontro real, ele acaba demonstrando uma resistência. Diz que tem uma carga horária de trabalho muito extensa, que trabalha no final de semana e etc.
Essa situação tem causado desconforto na moça, afinal, ela entende que eles já poderiam ter mudado de fase, esse troca–troca de mensagens já está ficando desinteressante na visão dela. Ela disse que o acha sem atitude e que isso está afetando o interesse dela em relação a ele.
Ouvindo o desabafo da colega, me pus a pensar a respeito disso. Puxa vida, onde andam aquelas pessoas com “sangue na veia”? Ao que parece, as pessoas estão com a lista de contatos cada vez mais abarrotada, e, na prática, sem nenhuma história para viver. Há uma tendência cada vez mais crescente de as pessoas deixarem as outras no “stand by”. Como funciona isso? A pessoa conhece um monte de pessoas nos sites de relacionamento ou redes sociais, não se relaciona com nenhuma, fica embromando e não são capazes de serem transparentes o suficiente para deixar claro que não há um interesse real da parte dela para um envolvimento.
Ao que parece, esses colecionadores de contatos pensam assim: vou manter esse contato aqui porque posso precisar no caso de me faltar opção. Mas, na prática, nada acontece, ninguém se relaciona de verdade.
Cá pra nós, nada substitui um contato real, né? Muitas pessoas ainda querem beijo na boca, querem toque, querem abraço, querem namorar de verdade. O que falta para que algumas pessoas entendam que mensagens virtuais são até bacaninhas, mas, que, enchem o saco se não houver o corpo a corpo? Do que adianta ficar enviando fotos e mais fotos se nada acontece de verdade?
Eu me lembro de um tempo na adolescência em que um rapaz corria sérios riscos ao me encontrar. Meu pai e meus seis irmãos não queriam o nosso namoro, mas ele não se intimidava e sempre dava um jeito de nos encontrarmos. Eu o encontrava mesmo sabendo que uma surra estava me esperando ao entrar em casa. Vivíamos, inclusive, a magia da troca de cartas, pois morávamos em estados diferentes. Aquele sujeito tinha sangue na veia, hoje eu percebo isso com muita clareza. Ele sabia o que queria, bem diferente dessa geração que mora a duzentos metros da casa de uma suposta pretendente e nunca se dispõe a materializar nada. Tudo fica no plano virtual, que saco, haja paciência, né gente?
Vou torcer para que minha colega consiga esse encontro com esse ser tão ocupado e que vivam algo bacana. Embora minha intuição diga que é puro fogo de palha. Acredito que quem quer acha tempo, acha jeito acha lugar. Como li num texto: “quem quer, acha um jeito, quem não quer, acha uma desculpa”. Atitude, minha gente! Larguem os celulares de lado e se embaracem nos braços de alguém, existe muita gente interessante por aí, basta tirar os olhos da tela para percebê-las.
Imagem de capa: Olesya Kuprina/shutterstock