Te amar, me ensina? Como quem ensina a dançar num quintal silencioso que é só paz e intimidade. Me ensina, vai! Sou moroso, lerdo, devagar, mas eu aprendo. Eu que estou sempre atento pros seus lábios, eu que escuto seu corpo como a explosão de um glaciar: respeitoso. Eu que te amo e nem sei fazer isso direito.
Me ensina a aceitar tua dúvida sem medo. A namorar tua distância com ainda mais desejo. A te querer por perto, mais perto, colado nas paredes mornas do meu avesso como um pensamento que não se desprende. Me ensina a te amar e a te querer na mesma medida. A te desejar e a te ter na mesma moeda, sem pagar caro demais.
Me ensina a te beijar como um passo discreto, mas exuberante da nossa dança, que também é luta, que também é guerra, que é toda paz. Me ensina, amor meu, a te amar sem pressa. A te ter nas medidas certas.
Me ensina a te amar sem te querer demasiado. A te dar margem sem te perder do abraço. A te abraçar sem apertar nunca demais teus ombros aveludados. Ensina, enquanto eu colho os frutos maduros dos seus olhos turvos. Me ensina a te saborear devagar. Eu que nunca soube ser polido no amar. Eu que sempre engulo, repito, lambo as pontas dos dedos, me engasgo, eu que sempre me arrependo. Ocidental e acidental.
Eu que sou moroso, lerdo e lento, mas te amo agora um pouco mais, na velocidade ágil das estrelas que caem. Com a ancestralidade das estrelas que caem. Com a loucura das estrelas que caem. Mas com a perenidade dos astros, que entre todas as estrelas que caem, permanecem inalterados e apaixonados, cada dia e noite um tanto mais, orientais.
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