Fomos, mas sigo mesmo sem sermos mais

Somam-se os dias que a gente não mais se fala, não mais se vê. Eu venho seguindo bem, quase que diariamente. Tenho tanta coisa para te contar, tanta novidade que está por vir, tanto para partilhar contigo que quase consigo ouvir o tom da tua voz me parabenizando, cheio de orgulho, transbordando de carinho. Acho que nunca irei me acostumar com a forma como você vibrava. Era bonito de sentir, sabe? Eu me sentia especial – e talvez tivesse sido.

A verdade é que, alguns dias mais que os outros, eu sinto tua falta. Eu sinto falta de quando a gente conversava todos os dias, o dia inteiro. Eu sinto falta de saber como você tem passado, que caminho tem trilhado, que música anda ouvindo, que filme tem te emocionado e se você tem se apaixonado. Havia tanta sinceridade entre a gente, tanta falta de máscara e tanta história para dizer que me pego pensando em como a gente nos permitiu perder tudo isso. Como a gente perdeu o companheirismo que sempre esteve acima de todas as coisas.

Teve uns dias que quis te ver.

Chamar você, contar as novidades, como nos velhos tempos. Mas não tem mais velhos tempos e não tem mais velhos ‘nós’. Mudamos. Nesses dias que a tua falta grita mais alto, nesses dias que eu só queria bater um papo noite a dentro, nesses dias que a saudade rasga o peito e eu reviro memórias, histórias, músicas, conversas, eu me forço a ver o que nos tornamos, o tanto que o hiato se agigantou entre a gente e o tanto que a gente não se reconhece mais.

Eu me tornei um disco arranhado, sem querer. Eu juro que tento não bater na mesma tecla, não escrever o mesmo assunto, mas meu coração pulsa saudade e revela sentimentos que eu julguei ter esquecido. Patética, eu sei. Boba, talvez. E sem me dar conta estou colocando nós dois no papel, porque pelo menos uma folha em branco é possível coexistir como nos velhos tempos.

Alimento as lembranças com as horas doces, com as palavras certas, com o toque incerto e com as surpresas que se revelaram muitas. Eu vejo quem deixei de ser, quem me tornei porque você me descobriu. Tirou um manto que nem sabia que vestia, quebrou barreira, me quebrou inteira, me remontando depois, com um sorriso sacana no rosto e uns olhos que brilhavam…

Somam-se os dias que a gente não mais se vê e sequer se fala. Eu sigo bem, todos os dias, e tenho tanta coisa para te contar que você ficaria bobo, com aquele sorriso que brilhava. Acho que nunca irei me acostumar com a forma como você vibrava. Era bonito sentir. Pulsava, sabe?

Eu me sentia especial – e talvez tivesse sido.

Imagem de capa: Alena Ozerova, Shutterstock



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Engenheira, blogueira, escritora e romântica incorrigível. É geminiana, exagerada e curiosa. Sonha abraçar o mundo e se espalhar por aí. Nascida e crescida no litoral catarinense, não nega a paixão pela praia, pelo sol e frutos do mar.

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