Vamos fazer de conta que está tudo bem. Viramos a página, riscamos a história, semeamos, sei lá, alguma coisa nova. Algo colorido, de preferência. Ando meio irritada com esse mundinho sem graça (já basta eu!) de cinza, preto e branco, cinza, preto e branco, cinza, preto e branco. Mescla. Sujeira. Imundície — e nesse ponto sou eu, outra vez, hiperbolizando, porque é assim que tem que ser.
Vamos fazer de conta que as coisas se estragaram. A gente rouba uma flor que nasceu no asfalto (tanto concreto!) e planta no meio da nossa rotina, contrastando com o céu cinza que a gente vê ali na janela. Ou talvez a gente possa pintar um arco-íris de mil tons no quarto, para acordar colorido todo dia, seja num tédio de segunda ou numa preguiça de domingo.
Vamos fazer de conta que eu estou lá e você está lá também e não tem esse hiato dividindo nossas mãos ausentes. Vamos fazer de conta que essas palavras (tão desconexas!) fazem algum sentido e você, você e você — que me lê — faz de conta que entendeu qualquer coisa que escondi nas entrelinhas bagunçadas que aqui registro.
Eu e você agora.
Vamos fazer de conta que não tem saudade. E vamos fazer de conta que ela não é sem graça, cinza, preta, branca, cinza, preta, branca. Mescla (…)
Imagem de capa: Jurij Krupiak, Shutterstock