Você não sabe garota, mas tão logo te vi, já fiquei fixado na tua. Você veio como a cereja do bolo, menina… Estava preparado para o que viria, mas não havia me preparado para esbarrar em você e, confesso, fiquei atordoado com a tua presença feminina e teu perfume importado. Tentei, a todo custo, desviar meus olhos dos teus e focar naquilo que me era importante, mas você ativou minha visão periférica de tal forma que me distraí consecutivas vezes, quase perdendo o fio da meada em cada uma delas.
Eu tinha muito mais por brigar e por dizer, mas me contive devido a tua presença ali, tão num canto e esquecida, mas que enchia a sala inteira. Era tudo você ali, cada milímetro daquele espaço, cada partícula de ar estava impregnada da tua presença. Meus olhos, ansiosos, me traíram algumas vezes, desviando-me ao encontro teu, carregando o ar com puro desejo.
Algumas vezes vi a graça com que você se escondia atrás dos cabelos e, ali, tive a certeza que cada olhadela minha não havia passado despercebido da intuição tua e o meu jogo ficou divertido. Era prazeroso ouvir as borboletas que se alvoroçavam em teu estômago e o leve tom rosado que corava tuas bochechas, ainda que involuntariamente.
Entenda, garota, eu tive de sair assim que pude. Estava a um fiapo de cometer algum tipo de insanidade e, sendo assim, fui longe. Longe do teu perfume, longe do teu sorriso, longe da tua voz arrastada e bonitinha. Sentindo muito, sentindo demais.
Eu me forcei a pôr a razão à frente de todas as coisas. E agora sozinho neste apartamento, remoendo cada pedaço teu que minha memória foi capaz de absorver, sinto a culpa evaporar dos poros…
Ah se eu tivesse me permitido…
Imagem de capa: Dmitry_Tsvetkov, Shutterstock