Felicidade é singular. Eu tenho a minha felicidade, você a sua, eles as deles. Cada qual com a propriedade de fazer-se feliz como indivíduo pleno, neste mundo imenso de prazeres e dissabores. É responsabilidade de cada um ir atrás das aspirações que estão no cerne de cada particularidade da beleza pessoal, que todos possuem. E tem coisa mais gostosa de que viver uma vida de bem com tudo e com todos? Leve, com tranquilidade e serenidade no olhar? Não há. E para viver assim é preciso só querer.
Tem gente que deposita todas as fichas daquilo que lhe faz bem em externalidades. Sobrecarrega a terceiros com cargas por quais não lhes são devidas, enchem-se de bens materiais, em superficialidades e, não percebe a real necessidade de olhar para dentro de si, reconhecer, então, essa energia latente nascendo dia a dia na própria existência. Não lá fora.
Às vezes é mais difícil lapidar a casca grossa que nos envolve de dissabores para, assim, dar-lhe espaço para o coração encher-se de prazeres. Pequenos prazeres. Como dormir em uma noite de chuva fina melodiando a madrugada inteira, acordar com saúde e disposição para mais um dia de labuta, ou no domingo de feira e pastel quentinho, caldo de cana geladinho. Prazer de um sorriso sem motivos, apenas por sorrir. Do abraço que protege onde não há de ser protegido, abraço de amizade, de carinho, de excitação. Felicidade de estar bem consigo mesmo.
Todos têm o direito e dever de encontrar o sentido da própria vida. Seja ele qual for; é trabalhar duro para ter um futuro – financeiramente – estável, trabalhar o suficiente e viver a excelência do minimalismo do ter e “só” ser, fazer uma faculdade ou um mochilão no exterior… Oportunidades não faltam. Quando é entendido que para ser feliz não é preciso ninguém além da própria companhia, nos tornamos a melhor versão de quem poderíamos ser. É um constante crescimento. Mas, a vida não é feita exclusivamente de sorrisos, e isso faz parte. É bom também. Ser pleno é valorizar as alegrias e saber encarar as dores que virão sem aviso prévio. Dores que pegam a gente de surpresa e, nossa, é tenso as barras que precisamos — precisaremos — segurar.
Eu sei que nascemos sozinhos e morreremos idem, mas no percurso de um ponto a outro é inegável a felicidade de olhar para o lado e, mesmo sabendo que estamos sós, encontrar em outros olhos uma plenitude que apoia e está lado a lado para ser suporte, para ser abrigo, para estar junto.
Por isso sou fã de uma vida compartilhada. Uma vida a quatro mãos, que podem se transformar em seis, oito, dez… Quando duas pessoas que são felizes por si mesmas estão juntas o universo para, olha, conspira e diz: vocês podem tudo juntos. Sim, tudo. Claro que a responsabilidade pela nossa felicidade é individual, mas a felicidade daqueles que nos amam e que amamos potencializa os nossos sorrisos, enriquecem as nossas experiências emocionais, colocam-nos em um patamar mais próximo do céu. Do paraíso de viver uma vida regada de energias positivas.
Uma vida compartilhada tem a beleza que é saber que quando a dor bater, quando ela chegar de supetão ou de mansinho a gente sabe que, sozinhos, não estamos. Porque aqueles que nos amam e dividem a felicidade com a gente serão os primeiros — talvez, e que assim seja, os únicos — a não deixarem a gente cair. Dão-nos as mãos, os braços, o peito. O coração se necessário. Ser feliz sozinho é fundamental, mas quando possuímos alguém que deseja veementemente ser parte do nosso todo, da nossa bagunça, é uma benção divina. É raridade das grandes.
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