Você é má. Não há um jeito mais polido de dizer isso. Então apenas digo: você é má, garota. Você é cruel, interesseira, aproveitadora, sanguessuga, maledicente, mesmo com um sorriso largo no rosto.
Você é má. E não mudou um milímetro em todos esses anos. Chance não faltou. Nem pra melhor, nem pra pior. Você apenas se colocou mais espaçosa em um terreno reconhecido. Espreguiçando-se como erva daninha. E ninguém se move tão rápido e ao mesmo tempo lentamente, quanto você, admito.
Você é má. Em cada vírgula, em cada riso, em cada elogio que esconde uma crítica. Você é vil e pequena, mas letal, como um vírus. Sendo atacada ou protegida. Sendo amada ou esquecida. Recebendo afeto ou dor.
Admito que demorei pra abraçar a sua verdade. A gente sempre espera que as pessoas tenham contornos de bondade ou fragilidade em torno dos erros que comete. A gente sempre espera mais do que há.
Da primeira vez que você me feriu, eu acariciei seus cabelos. Da segunda vez que você me feriu, enxuguei seu rosto. Da terceira vez, eu segurei seus dedos. E você me feriu outra e outra e outra vez com crinas, caninos e unhas invisíveis. Porque é isso que você faz. Mas isso não é mais algo que faça parte de mim.
Se você é a noite, eu sou meio dia. Se você é oriente, estou ocidental. Se você é a solidão, eu sou todo o meu povo, cercado, abraçado, multidão. Você é só o que é, é tudo o que tem: ruindade.
Não haverá ataque, nem guerra. Para seu pavor, meu amor, nada nunca mudará entre nós. Eu apenas quero que você sempre saiba que eu sei. Eu quero sempre que você entenda que antes de você virar o olhar, eu te enxerguei. Lá no fundo. Eu quero que por trás do seu sorriso vago haja sempre, todo dia um pequeno constrangimento. Eu quero que no fundo do seu falar manso sempre ecoe – Eu sou má e ele sabe de tudo.
Imagem de capa: Dmitrii Erekhinskii, Shutterstock