Quem quer se joga. Quem não quer faz jogo.

De repente eu pensei em você. Do nada, andei pensando em você que já não sei onde anda. Lembrei das nossas coisas, nosso tempo, nosso jeito. Refiz comigo nosso primeiro passeio, na chuva, nosso Réveillon em casa, nossa única sessão de cinema. Lembrei da gente, assim, sem mais. E acho que foi justa a nossa conduta, nosso juízo, nossa iniciativa de seguir em frente, resolutos, nossos caminhos opostos. É assim que é.

Fomos breves, quase tanto quanto breve é a vida. Passamos um pelo outro feito cometas em direções opostas. Corpos celestes que um dia se cansaram de girar em torno do sol e decidiram sair do rumo e olhar a lua juntos. Rebeldes, deixamos nossa via certa, circular e eterna por um zigue-zague esquisito de pequenos erros entre as estrelas. Belos e breves no espaço infinito em que vive uma lembrança boa.

Nosso voo vertiginoso e fugaz riscou o céu de luz, mudou os ciclos lunares, bagunçou a casa dos astros. Você e eu estremecemos tudo, deixamos no infinito nosso rastro luminoso de ternuras e afetos. Depois partimos leves, felizes, soltos, melhores, um para cada lado do firmamento.

Fossem os amores eventos previsíveis e fáceis de classificar por seu tempo de duração, o nosso seria nada mais do que breve e bonito feito os cometas e sua passagem. Fomos breves, repentinos, imediatos. E ficamos um no outro para sempre. Porque assim quisemos, porque nos jogamos e vivemos com verdade. Sem jogos, sem dramas, sem medos. Você sabe: quem quer se joga. Quem não quer faz jogo.

Imagem de capa: Jurij Krupiak, Shutterstock



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Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.

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