A difícil arte de desistir

Por Isabela Nicastro – Sem Travas na Língua

É preciso desistir.

Deixar ir, abandonar, partir para outra. Quando os planos não saem como o esperado, quando a felicidade já não se faz presente, quando não há forças para continuar. Desistir é uma arte. Poucos tem o dom e a coragem de assumir.

No entanto, em um mundo de cobranças e perfeições, desistência parece ser sinônimo de fraqueza. “Ah, não aguentou”, “não deu conta”, “sucumbiu”. É preciso manter-se forte e inabalável. Aguentar firme o trabalho que não te faz feliz. Lutar por um relacionamento que já acabou há muito tempo. Formar-se em um curso que não tem nada a ver contigo. Mas não, queridos. Nós sucumbimos. Não demos conta. Partimos para outra. Em busca da felicidade, da paz de espírito e do bem-estar.

Estou nessa. Desisti e continuarei desistindo, se for preciso. Quando me questionam sobre a maluquice de ter deixado a cidade maravilhosa, por exemplo, eu digo claro e abertamente: desisti. Do meu sonho. Do trabalho maravilhoso que tinha por lá. Dos meus amigos. Da felicidade de morar a poucos metros da praia. Do calor o ano todo. Da casa de vila. Do status no Facebook ‘mora no Rio de Janeiro’. Voltei e poucas pessoas entendem isso. Afinal, poucas me conhecem tão bem a ponto de reconhecer que desistir foi a melhor coisa que eu poderia ter feito.

Desisti para recomeçar. Para estar com o coração tranquilo e em paz. Para ajudar o meu pai, à medida que sua consciência assemelha-se à de uma criança de cinco anos. Para compartilhar dos cafés da tarde e das histórias magníficas do meu avô de 90 anos. Para ganhar menos, porém, para gastar com o necessário. Para ter a liberdade de sair de casa 07h50 e estar às 8h no trabalho. Para poder almoçar e dar um cochilo de meia horinha. Para ter minhas cachorras no meu colo, todos os finais de semana.

Descobri que é possível ser feliz após uma desistência, seja ela qual for. Que as coisas se ajeitam aos poucos e lentamente, mas o importante é que elas sempre se ajeitam. Para uma capricorniana exigente e perfeccionista, desistir foi um ato de coragem. Coragem de nadar contra a corrente, simplesmente para dar ouvidos ao coração. E, por mais que a razão se sobressaia, o coração nunca está errado. Ele grita, chora e faz de tudo para chamar sua atenção. Ele quer ser ouvido. Quer te mostrar que é possível segui-lo.

Cabe a você escutá-lo ou não. Experiência própria: ele sabe o que te faz feliz.

Seja forte. Desista!

Fonte indicada: Sem Travas na Língua

Imagem de capa: Andrew Angelov, Shutterstock



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Capricorniana, 23 anos, jornalista. Apaixonada por mar, cães e cafés da tarde em família. Não dispenso bacon e muito menos uma boa história. Meu coração é intenso e grita mais do que a razão. Tenho o sentimento como guia e a escrita como ferramenta.

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