O que sou por nós diariamente

Sou a vontade de chegar mais cedo e o desejo de dormir mais tarde. A saliva que não se separa e o nó cada vez mais atado. Sou teu travesseiro e quero, antes da noite que chega ligeira e do sono que nos mantém calados, lembrar-me de como é bom dormir ao teu lado.

Sou o beijo matinal antes do creme dental. Sou o imã da nossa cama a não querer nos libertar, quando as primeiras vontades do dia são: ficar, ficar e ficar. Sou a água a banhar teu corpo e o sabonete a te perfumar. Sou teu café sem açúcar na tua boca já doce e a recompensa mais pura que a tua vida me trouxe.

Sou a nossa despedida esperada. Sou cada rumo tomado. Sou a rua sem saída e o relógio arrastado. Sou a mensagem de texto com a saudade espremida entre a vontade da fuga e a hora da partida. Sou o ônibus cheio, sujo e apertado. O trânsito frio, calculista e mal intencionado. Sou a chuva repentina a me esperar no ponto e a lavar minha alma até a nossa esquina.

Sou o mesmo Déjà vu ao rever teu semblante. O mesmo sorriso de olhos e bocas. O beijo afobado a arrancar as roupas e a nos encaixar no próximo instante. Sou a cama quebrada no chão. O vizinho a bater no portão. Sou o cafuné em forma sobremesa e a ternura sempre tão ilesa.

Sou a vontade que nunca tive de manter uma rotina. A certeza que agora tenho de querer-te ao acordar. Sou o desejo sincero de uma vida possível, que nos revele as nossas impossibilidades e, nos ensine que o nosso único compromisso diário é amar.

Imagem de capa: Anatolii Brohovskyi, Shutterstock



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Fellipo Rocha é poeterapeuta, músico e idealizador da página Corpoesia. Além disso, escreve pelos sorrisos que perde, todas as vezes em que não sai de casa.

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