Por Isabela Nicastro – Sem Travas na Língua
Não há como negar. Sempre vai ter uma ex, uma história complicada, uma questão mal resolvida. Algumas coisas que ainda machucam no presente, é porque já foram muito dolorosas no passado. As desilusões de agora já foram expectativas fracassadas há alguns anos. Ou seja, é inevitável abrir mão do que passou. No entanto, é possível usar o passado como trilha e não mais como destino.
Tentamos recomeçar, mas é difícil esquecer daquele que nos machucou. Recuperamos a autoestima, mas ainda assim pequenos detalhes nos deixam inseguros. Esquecemos do que é amar, pois sofremos demais com quem não merecia. Nossa memória é afetiva e está a nos apontar constantemente.
Sonhamos e desejamos tanto o futuro, porém, inconscientemente, acabamos retornando ao passado. Não só como resgate para lembranças, mas também como espelho para os próximos passos. Repetimos histórias em que só trocamos os personagens. Quando, por um desvio, não há repetição, tememos. Temos receio de que o passado retorne em formato de presente e aí, na tentativa de evitar, pausamos o viver.
Nesse vai e vem entre tempos verbais, estacionamos no meio do caminho. Ao mesmo tempo em que não conseguimos nos livrar do passado, sofremos pelo futuro e nos esquecemos do presente. Seguimos a esperar que o passado volte, que os mortos ressuscitem, que o carma aconteça. Ao invés de torná-lo a trilha para novos acontecimentos, deixamos que ele interfira nos nossos sentimentos e decisões.
A questão é enxergar o que passou como aprendizado e não como o espantalho que nos assusta na caminhada. Ele estará presente por toda a trilha, mas não poderá nos deter. Continuaremos andando, vivendo, sentindo. Mesmo com medo do futuro, apesar dos obstáculos do presente. Como dizia Drummond, havia uma pedra no meio do caminho. E ela que nos fortalece. Ainda bem.
Fonte indicada: Sem Travas na Língua
Imagem de capa: FCSCAFEINE, Shutterstock