Temos que saber exatamente o tanto que somos e temos e podemos oferecer, para que não nos conformemos com retornos ínfimos, incompletos, menosprezíveis.
Com uma frequência maior do que gostaríamos, vemos amigos, conhecidos ou familiares presos em relacionamentos degradantes, nos quais se sentem infelizes, desvalorizados e, mesmo assim, permanecem ali, junto à dor. É como se estivessem viciados em se punirem, porque manter uma vida a dois nesses termos equivale a sofrer castigos diários.
Nenhuma relação é serena o tempo todo, livre de algumas desavenças, pois é assim que os parceiros se reajustam, fortalecendo o que traz ganhos e se libertando do que emperra. Se nunca, nenhuma vez que seja, houver algo a se discutir, é sinal de os parceiros deixaram de prestar atenção um no outro. É sinal de que tudo esfriou, espaçando-os a uma distância confortável, na qual não necessitam enfrentar o que está engolido – uma ou outra hora, a indigestão chega.
No entanto, o extremo oposto também não pode ser tido como normal, uma vez que ninguém, em sã consciência, é capaz de viver e de sobreviver com mínima saúde mental, caso passe os dias brigando com o parceiro ou clamando para que sua presença seja notada. Ninguém merece estar acompanhado e, ainda assim, sentir solidão. Ninguém merece conviver com quem só critica, só reclama, só cobra, sem nada ofertar em troca. Porque todos merecemos amor de verdade.
Por isso, antes de nos lançarmos a um relacionamento, é necessário que tenhamos bem claro, dentro de nós, tudo aquilo que aceitamos e não aceitaremos nunca; tudo o que merecemos e o que ninguém mereceria; caso contrário, poderemos trazer, para junto de nós, o que nem deveria passar por perto de nossas vidas. Temos que saber exatamente o tanto que somos e temos e podemos oferecer, para que não nos conformemos com retornos ínfimos, incompletos, menosprezíveis.
NA gente tem que se bastar, completando-nos, amando tudo o que existe aqui dentro. Somente assim seremos capazes de nos relacionar sem pendências, sem que procuremos no outro o que nos falta. Caso deixemos alguns vazios em nossa essência, poderemos tentar preenchê-los com o pior que o outro tem a oferecer, porque então nos sujeitaremos às migalhas alheias. Seja inteiro, seja amor-próprio, para que não aceite menos do que a verdade completa.
Imagem de capa: Oleggg, Shutterstock