Ela estava ali o observando á distância, mas gostaria de estar perto o ouvindo atentamente enquanto ele falava sobre alguma mania sua. Ela estava ali quando ele ficava constantemente lhe lançando olhares furtivos e ela não sabia o que significava. Ela estava ali e sorria sem jeito quando tinha que concordar com alguém que dizia o quanto ele era diferente dos outros garotos. Ela sempre esteve ali e continuou por um longo tempo. Ela continuou porque eles não eram muitos próximos, mas gostaria que um dia fossem grandes amigos e ela sabia desde já que adoraria sua companhia em seu dia-a-dia. Ela continuou porque sonhava com eles conversando sobre assuntos diversos que ela não conseguia falar com mais ninguém. Ela continuou porque sentia que se afastar levantaria muito suspeita e ela odiaria que ele soubesse o quanto o seu coração estava confuso, dividido, sem saber o que era aquele turbilhão dentro do peito e o que significava aquelas emoções que estavam despertando.
E não importava o quanto ela dizia para si mesma que não queria sofrer novamente pelo mesmo mal de tempos atrás, que não poderia novamente gostar de alguém que nunca iria correspondê-la porque não a veria como ela gostaria de ser olhada. Ela tentou recapitular as vezes que isso aconteceu e infelizmente percebeu que foram várias, como se ela tivesse uma atração sem sentido por rapazes que nunca iriam lhe dar reciprocidade, como ela só soubesse gostar de quem pudesse lhe dar dor e sofrimento. Ela havia lembrado que a menos de um ano havia se apaixonado por um garoto e que ele era tão parecido com ela em alguns sentidos, e tão lindamente diferente em outros, que só conseguiria pensar em tê-lo o resto da vida, e quase achou que isso seria possível até que ela o viu com outra garota e falando constantemente dela com paixão e devoção. Por isso estava com tanto medo de acontecer de novo, de voltar a mesma situação e sentir na pele a dor de uma nova cicatriz das guerras que lutou sozinha ao lado de Deus.
Todavia, no fundo ela sentia mais era medo de sentir do que propriamente o sofrimento da falta de reciprocidade. Ou ela sentia os dois, pois ela estava tão confusa que não sabia o que estava acontecendo, só sabia que não estava confortável com a ideia de vê-lo com outra, se essa tal outra já não existisse nos planos dele, e que não saberia lidar caso isso ocorresse. Porque apesar dela querer a sua felicidade, que ele fosse amado e cuidado na mesma intensidade, que construa a família tão sonhada em um lugar tranquilo, ela tem medo de não saber lidar se isso acontecer e a pessoa ao lado dele seja qualquer outra menina. Ela queria poder ajuda-lo nos momentos difíceis, poder aconselha-lo quando tivesse que tomar decisões importantes, e entender o seu comportamento que muitas vezes o põe sob luzes tão fortes e depois o isola num canto. Ela até já chegou a tentar se aproximar de uma forma diferente e tentar conversar sobre alguma banalidade, mas ele não corresponde direito, ela fica com vergonha de ter tido atitude e ri sem jeito.
Porém, ela só gostaria de não se importar mais com ele e desistir, ou de ser logo sincera e dizer exatamente o que inunda seu coração, mas algo dentro dela tem tantas dúvidas e por isso ela só quer chorar enquanto grita: “Você não percebe, seu idiota?”. E junto vêm os gritos internos que ecoam dizendo “O que tem de errado comigo?”. Logo ela que já não se achava boa o suficiente, acaba de ver que de fato não é para alguém como ele. E a sua autoestima que já é tão baixa fica agora abaixo do nível do mar, por isso ela só quer ir para casa para poder abraçar seu coberto florido e chorar enquanto fala com Deus sobre isso. Pois se tem alguém que entende o que passa dentro dela é Deus. Ele sabe o quanto ela já se viu nessa situação, pois Ele sabe que no coração dela há uma vontade gigantesca de ser amada, de ter alguém para compartilhar a fé, os sonhos, as loucuras, mas que sempre que acha que aquela pessoa será justamente aquela que Ele quer para sua vida, ela percebe da pior maneira que não é e acaba se machucando. Entretanto, Ele não a quer ferida e sim sorrindo por saber que Ele não a daria para qualquer um, pois para ela tem uma pessoa especial que será só dela e irá trata-la com o devido respeito e amor.
Enquanto isso, ela só quer deixar qualquer sentimento bobo e idiota descer pelo ralo e se apegar ao fato de que correr atrás não fará que ele goste dela, e que nem trata-lo com indiferença vai poder fazer sumir o que tem em seu coração. Ela precisa continuar sendo quem é, pois apesar de toda essa confusão ela sabe que em algum lugar do mundo tem alguém que a amará. Só que no fundo ela acha que de fato seria ela a melhor pessoa para fazê-lo feliz, e que um dia ele irá perceber isso e será tarde demais. Que um dia estará ela feliz com suas conquistas, sonhos realizados e talvez ao lado da pessoa que soube olha-la do jeito certo, então ele perceberá que de fato estava ali ao seu lado o tempo todo a garota que o faria feliz como nenhuma outra não poderia fazer. Ela sentirá ao mesmo tempo tristeza e alivio por ter conseguido superar, e se ele quiser saber se na época ela havia sentido alguma coisa e por que ele não havia a percebido antes, ela poderá olhar em seus olhos e dizer com sinceridade: “Eu estava aqui o tempo todo, só você não viu.”.
Imagem de capa: Kichigin, Shutterstock
Adorei, estou vivendo isso aos 39 anos…uma mistura de tristeza e decepção porque muitas vezes escolhemos e não somos as escolhidas. Parabéns pelo texto.