Amor é um sentimento lindo e, complicadíssimo. Todo mundo sabe disso. Ou deveria. Nascemos e morremos sozinhos, no meio do caminho, vivemos com aqueles que amamos. Amar é suportar; amor tudo suporta, mas nem tudo aceita. A gente não sabe explicar muito bem o que é, ou quando estamos sentindo pulsar dentro do nosso coração. Muitas vezes, antecipamos um sentimento ao outro, sem entender aquele que estamos sentindo em si. Na real, às vezes, o confundimos com outros sentimentos próximos, mas não sinônimos.
Amor é alívio para os males da vida; paixonite aguda que vem e machuca, vira crônica, se estende por alguns meses. Se não virar amor, vira nada. Amar é querer se renovar; paixão é o desejo pelo imediato e, ponto. Paixão, por si só, não admite mudanças; paixão tem residência fixa no idealismo; amor, é a realidade em constante evolução.
Quando estamos amando com propriedade dos sentimentos verdadeiros, nos renovamos a cada dia, nos tornamos melhor — não deixamos de ser quem a gente sempre foi, quem a gente é — do que já fomos outrora. E isso é lindo, sabem? Ninguém precisa mudar por obrigação, mas desejar se tornar uma versão melhor de si mesmo é digníssimo. Eu já mudei tanto que, olhando lá atrás, no antigo eu, me vejo uma pessoa muito melhor atualmente.
Hoje, sou pedaços de muitas mudanças; sejam elas físicas ou internas, só não sou o mesmo. E nem desejaria sê-lo. Não mudei por ninguém, mudei e continuarei a me mudar por mim mesmo. Mudo por culpa dos meus anseios; tenho tantos por felicidade e alegria. Talvez, uma das principais razões de minhas mudanças, foi a vontade que sempre tive em me tornar/ter uma família margarina. Todos reunidos à mesa para tomar o café da manhã, com rostos felizes e satisfeitos; é um modelo de família feliz, entre tantos outros bons, não o único.
Quando estou amando ou, pelo menos, admito ser o que estou sentindo, trato logo de melhorar para me relacionar melhor. Não é falsidade. Não é deixar de ser quem eu sou. É querer com sinceridade fazer dar certo e, para que dê certo, às vezes, precisamos ceder e anular algumas máximas, até então, irrevogáveis dentro da gente.
Um relacionamento saudável requer concessões. Requer mudanças; o amor por si só ensina isso a gente, para mim, talvez, para você também, o amor é um dos maiores responsáveis por nossas melhores mudanças. Então, por que permanecer o mesmo se, posso sorrir de tantas formas? Por que olhar sempre com os mesmos olhos estáticos, não admitindo enxergar outras cores, outras perspectivas? O amor não é acabado, é construção a dois por tempo indeterminado.
Amor é querer estar preso por vontade, dizia Camões em seus versos. Acredito nisso. Quando a gente entra em um relacionamento amoroso, deixamos de ser singular e, assim, passamos a ser plural. Um no outro. Sei que todos possuem a sua liberdade e, ninguém pode tirar isso da gente. Mas, por conta disso, não desejar por livre vontade mudar para o bem da relação, é um tiro que a gente dá no próprio pé. Um tiro no pé que fará mancar; que fará diminuir a velocidade; deixar de caminhar, estacionar; morrer no lugar. A gente bate no peito para dizer “sou livre para fazer o que quiser”, mas quem disse que amor é cárcere privado? Amor é chave que destranca nossas próprias prisões.
Imagem de capa: Alena Ozerova, Shutterstock