É preciso não ter medo de chover se quisermos florescer

Guimarães Rosa dizia: “O que a vida quer de nós é coragem”, e eu concordo plenamente, pois somos a sucessão de escaladas e abismos, somos nossa tormenta e nossa redenção, o início e o fim de nossas inquietações. Travamos batalhas interiores diariamente, e conseguir conduzir nossos pensamentos, emoções e desejos a um lugar de paz é nosso maior desafio.

Outro dia assisti a um vídeo do filósofo Leandro Karnal e me encontrei em suas palavras. Ele dizia que o pensamento das mulheres é um pouco distinto ao dos homens no que se refere à zona de conforto. Dizia que os homens são mais inclinados a permanecer na zona de conforto, enquanto as mulheres procuram mergulhar mais profundamente em seus sentimentos e emoções. Resumindo: somos mais inclinadas a questionar, debater, trazer à tona aquilo que não é escancarado mas não pode ser sufocado.

Às vezes, para conseguir escalar a cordilheira, a gente precisa recuar um pouco para recobrar o fôlego. Assim também acontece que, às vezes, para seguir em frente, precisamos nos reconciliar com nosso passado, com nossa história. Não temer destampar antigos curativos para que possam ventilar; arriscar cair um pouco para então se levantar; ousar desatar antigos nós para enfim continuar.

Olhar para trás e encarar o que doeu, o que feriu, o que machucou não é simples e não acontece da noite para o dia. Muitas vezes passam-se anos até que possamos ter coragem de rever a dor, para que ela não nos defina mais. Permanecer na zona de conforto nos protege, mas não nos ensina a transformar os cacos de vidro em novos vitrais.

Às vezes temos que dar um tempo nas linhas retas onde escrevemos nosso presente para rever as linhas tortas que deixamos para trás. Quem sabe assim a gente consiga acertar aquelas pautas também, nem sempre usando a borracha, mas entendendo e perdoando o contorno daquilo que de alguma forma saiu dos eixos. Só assim permanecemos livres e prontos para o que vem pela frente.

Eu acredito que, na maior parte do tempo, somos as experiências que vivemos, as pessoas que amamos, as saudades que deixamos, as escolhas que fizemos. Por isso, tudo precisa estar em equilíbrio; qualquer linha solta, mesmo que no início de tudo, pode modificar o desenho final. Muitas vezes preferimos não saber, não lidar com isso, não cutucar o vespeiro. Mas ele está ali. Mesmo que a gente não olhe pra ele, ele continua à espreita. Então é preciso coragem e disposição para sair da zona de conforto. Para ousar retroceder e só então alcançar o cume da montanha…

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Fabíola Simões é dentista, mãe, influenciadora digital, youtuber e escritora – não necessariamente nessa ordem. Tem 4 livros publicados; um canal no Youtube onde dá dicas de filmes, séries e livros; e esse site, onde, juntamente com outros colunistas, publica textos semanalmente. Casada e mãe de um adolescente, trabalha há mais de 20 anos como Endodontista num Centro de Saúde em Campinas e, nas horas vagas, gosta de maratonar séries (Sex and the City, Gilmore Girls e The Office estão entre suas preferidas); beber vinho tinto; ler um bom livro e estar entre as pessoas que ama.

6 COMENTÁRIOS

  1. Amo tudo que escreve, vc é uma pessoa abençoada por Deus.
    Amo suas poesias e textos, alguns muito parecido comigo.
    Compartilho quase sempre.
    Vc tem uma alma lindaaaaa!

  2. Eu amo sua escrita, seu olhar sobre a vida. Seus textos me fazem pensar, mudar e agir afim de me tornar melhor e aceitar o que já tenho de bom. Obrigada por compartilhar seus pensamentos e emoções comigo, você não imagina o impacto que isso causa não só na minha vida, mas de muitos. Expressar pensamentos e vivências tão pessoais só nos mostra o quanto é generosa. Continue escrevendo que eu vou continuar lendo e relendo e divulgando a todos o amor que tenho pelos seus textos. Um beijo da sua fã ?

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