Tenho um medo danado de arriscar: atravessar a rua, vestir vermelho, pintar o cabelo e deixar o novo chegar. Ficar um tempinho a mais conversando e arriscar perder o ônibus, a razão, arriscar ver o tempo passar. Tenho um medo louco dessa palavra e como boa virginiana resolvi analisar. “A” na língua portuguesa, além de ser vogal assim sozinha e bonita como artigo, serve também para iniciar palavras tristes: “adeus”, responsáveis: “alteza” e de conciliação: “aliança”. Carrega também o dom da negação. Então… Bem… Separando arriscar, fica: A/rriscar.
Tudo bem. Um risco, geralmente, é um traço reto, alinhado, bem traçado e determinado, se não fosse assim… Viraria rabisco! Um risco é algo certo, sem movimento e rotação. É tudo o que preciso. Tenho necessidade de pisar em concreto, terra firme, paz no coração. Um risco é metódico, bem analisado, bem feito e definido. Quando alguém diz: “Ah, vou fazer um risco!”, dá pra saber muito bem o que esperar. Não tem surpresa, é seguro, dá pra confiar. Um risco vai ser sempre risco aqui ou em qualquer lugar!
E se caso eu decida colocar um “A” na frente do meu risco! Ai, ai, ai! Não sei onde vou chegar. Acho muito arriscado colocar o “A” em risco, coitado! Colocá-lo em perigo e ficar sem ter onde pisar. Mas, se alguém vem e faz um rabisco, desenha um símbolo do infinito, põe as curvas no lugar… Acho que posso vir a achar bonito e quem sabe assim resolva o “A” riscar!
É, amigo… É assim mesmo… Quem não risca, não tem onde chegar! Já reparou que são as curvas que nos dão a direção? Não?! Risque o “A” e se •venture a descobrir!
Imagem de capa: Alfaguarilla, Shutterstock