Ao falarmos em Nelson Rodrigues as primeiras descrições que vem à mente é “pornográfico, tarado e indecente”, e essa fama se deve à forma como suas obras foram apresentadas e como sua figura foi exposta à sociedade na década de 50.
Não que ele não fosse um tanto quanto audacioso em suas crônicas, mas limitá-lo a um tarado literário é, no mínimo, limitá-lo ignorância de quem não o conhece.
Perguntando pelo repórter J. J. Ribeiro como definiria a própria personalidade, Nelson Rodrigues, surpreendentemente, respondeu: “o sujeito mais romântico que alguém já viu. Desde garotinho sonho com o amor eterno. Na minha infância profunda os casais não se separavam. Havia brigas, agressões de parte a parte, insultos pesadíssimos, mas o casal não se separava. Sou um menino que vê o amor pelo buraco da fechadura. Nunca fui outra coisa. Nasci menino, hei de morrer menino. E o buraco da fechadura é, realmente, a minha ótica de ficcionista. Sou (e sempre fui) um anjo pornográfico”.
Intelectual, jornalista e cronista esportivo, Nelson ganhou espaço na imprensa na época do militarismo no Brasil- governo Vargas, enfrentou a Segundo Guerra, passou pelas revoluções culturais de 60 e 70, pelo feminismo e, novamente, por outro governo militar. Portanto, tinha conteúdo, inteligência e conhecimento empírico para escrever sobre o que quisesse.
Nelson não era um escritor do acaso. Era um escritor de História. Escrevia sobre a vida como ela é (textos, aliás, que levaram seu nome ao teatro e, posteriormente, à fama). As histórias saíam de casos que lhe contavam, da sua própria observação dos subúrbios cariocas e das assustadoras paixões que lhe contavam quando ainda era criança. Mas, saíam, principalmente da sua opinião sobre o casamento, o amor e o desejo (E que, cá entre nós, muitos compartilham da mesma opinião e não tem coragem de compartilhar).
O ódio e o preconceito enfrentado na pele por Nelson, e que ele demonstrava não se importar, já que dizia que “toda unanimidade é burra”, tinha dois motivos específicos, além de jogar no ventilador assuntos polêmicos, Nelson não poupava ninguém. Políticos, líderes religiosos, chefes de famílias, homens, mulheres…ninguém! Com reflexões profundas e os mais diversos temas sociais, seu sarcasmo velado eram expostos em forma de literatura.
Um exemplo de seus temas polêmicos refere-se à beleza feminina. Enquanto Tom Jobim e Vinícius escreviam Garota de Ipanema, na década de 60, Nelson escrevia que: “na ‘mulher interessante’, a beleza é secundária, irrelevante e, mesmo, indesejável. A beleza interessa nos primeiros quinze dias; e morre, em seguida, num insuportável tédio visual. Era preciso que alguém fosse, de mulher em mulher, anunciando: – Ser bonita não interessa. Seja interessante”!
Nelson não um escritor de encantos ou desencantos. Não era sutil, tão pouco carregava o lirismo que a época literária exigia, mas, era autêntico e sabia que verdades deveriam sempre ser ditas, a todo e qualquer custo.
Na vida, a gente só sabe que ama alguém, a gente só tem o direito de dizer a alguém que o amamos depois de ter dito infinitas vezes a esse mesmo alguém a frase: eu perdoo você.
Porque na verdade a gente só sabe que ama, depois de ter tido a necessidade de perdoar.
Antes do perdão a gente pode ter admiração por alguém, mas admirar alguém ainda não é amar, porque admiração não nos leva a dar a vida pelo outro. Admiração é um sentimento, uma situação superficial, eu admiro aquela pessoa, mas eu sei que amo depois de ter olhado nos olhos, saber que errou, que não fez nada certo e ainda sim eu continuar dizendo que “eu não sei viver sem você”, “apesar de ter errado tanto continuas sendo tão especial para mim”.