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A não ser que você tenha pulado a adolescência ou habitado uma outra dimensão, longe dos suspiros e paixonites de quem está começando a olhar o outro de uma maneira diferente, você já teve que superar um amor não correspondido ou, pelo menos, lidar com uma paixão platônica.
Eu diria que é impossível cruzar a vida sem amar ou ser amado, sofrer por alguém e fazer o outro sofrer. Pode começar na infância, com aquela professora ou professor da escola que nos faz caprichar na letra ou ir bem na prova, só para ganhar um elogio.
Quando tinha 15 anos me apaixonei pela professora de natação (ela provavelmente era uns 10 anos mais velha). Eu adorava ir às aulas só para vê-la. Me esforçava ao máximo, nadava velozmente, me inscrevia em competições, fazia de tudo para ganhar a sua atenção. Criança e acanhado demais, era incapaz de me declarar. Isso nem me passava pela cabeça. Admirá-la era bom o bastante.
Só quem já foi ridiculamente tímido sabe como era “namorar” alguém sem que a pessoa amada soubesse. Nos meus vinte e bem poucos anos fui apaixonado pela minha melhor amiga. Lá pelo último ano da faculdade me declarei a ela e lhe roubei um beijo. Mas essa amiga sempre tentou me convencer de que eu estava misturando os sentimentos. “Namorei” ela mesmo sem que ela soubesse por anos, até que ela foi embora e nos afastamos. E é claro que histórias semelhantes voltaram a se repetir – e nesses casos eternos de amores platônicos, o substantivo solidão sempre foi chamado a compor o texto.
Crescer é uma descoberta solitária, como uma redação que devemos escrever sem qualquer ajuda. É uma busca de sentido num mundo interior, um sentimento de angústia, dúvidas, certezas furadas e infinitas perguntas sem respostas.
Assim também é o amor: é um processo de aprendizado, de aprender a ver, ouvir, de puxar pra perto, de deixar partir, de cuidar de longe, de querer bem mesmo sem poder ter.
O que nos diferencia daquela criança ou adolescente do passado é como lidamos com esses sentimentos que nos confrontam constantemente. O tempo nos ensina a buscar na solidão a harmonia e a paz de espírito que só podem ser encontradas dentro de nós mesmos. Apesar de acompanhados ou nos sentindo amados, sabemos que apenas sozinhos poderemos estabelecer um diálogo interno e descobrir nossa força pessoal.
Amar sozinho não é vergonhoso. Hoje, com quase 43 anos, continuo amando as pessoas sem que elas saibam, em silêncio. Meu amar é platônico por natureza, ninguém exige nada de ninguém. Podemos nos conformar com isso ou não. No fundo, talvez, seja apenas uma tentativa de se evitar o contato com a realidade. Ou talvez, quem sabe, seja hora de desaprender e começar tudo de novo.