Imagem de capa: Kaspars Grinvalds, Shutterstock
Não existe vida perfeita. Raramente a vida causa em nós uma sensação completa de satisfação. Pelo menos no sentido de “completa” em que costumamos pensar… Em um mundo bastante artificial e cheio de falsas necessidades como é o nosso, sentir que somos pessoas a quem falta uma peça ou mais pode cegar a possibilidade de enxergar as peças com as quais já contamos. É como se este pedacinho que preenche o espaço vazio que sentimos fosse o último e imprescindível segredo para a nossa felicidade.
“Se eu trabalhasse com o que gosto, seria mais feliz. Se eu tivesse um relacionamento estável e pudesse formar uma família, com certeza eu seria finalmente feliz”.
Estes pensamentos que todos nós já tivemos em algum momento são um obstáculo persistente que se encontra no caminho do nosso bem-estar. Grande parte deles são produto da nossa cultura e da nossa educação: nos ensinaram que quanto mais temos, mais felizes seremos.
Nós vivemos com a pressão e auto-exigência de ter que saber e fazer parte de tudo, e esta forma de ver a vida, evidentemente, nos enche de ansiedade, frustração e tristeza.
Quando alcançamos alguma de nossas metas (especialmente se forem materiais), logo vamos tentar alcançar a meta seguinte e depois dela a próxima, e assim por diante, até que fiquemos exaustos.
Ter desejos e metas de vida é legítimo e saudável. Que sentido teria a vida se não tivéssemos objetivos e sonhos? Mas é diferente pensar que precisamos de tudo o que desejamos. Fazer uma boa distinção é o segredo para não nos deixarmos perturbar de forma exagerada pela derrota de não conseguir o que planejamos.
A vida perfeita não traz felicidade
Isso pode ser confirmado por todas as pessoas que realizaram todos os seus sonhos e, ainda assim, não se sentem completas. Milhares de pessoas mundo afora parecem ter uma vida invejável. Se focarmos nelas, podemos sentir ciúmes e pensar que elas encontraram uma forma de serem felizes e estarem tranquilas, mas isso é mentira.
Se essas pessoas são felizes, não é por conta de tudo o que possuem ou alcançaram, mas sim por saberem olhar a vida de uma forma especial.
É muito difícil para o ser humano encontrar a calma com o que ele já possui. O ser humano sempre tem a sensação de que pode fazer algo mais, de que pode ser melhor ou de que pode obter uma maior quantidade do que quer que seja. É vazio, incompleto, imperfeito, imaturo…
Através de esforços descomunais, acabamos colhendo todas as realizações, todos os pertences e tudo aquilo que fará com que a nossa vida seja feliz e acabamos esgotados e com o corpo sofrido. Uma vez que alcançamos tudo o que queremos, a felicidade não é suficiente e continuamos querendo mais.
Se consegui ser uma pessoa graduada, agora preciso fazer um doutorado e depois disso ter um relacionamento estável, então vou aprender idiomas, viajar, ter filhos… e no pior dos casos, seja pela razão que for, se eu não alcançar tais objetivos, serei uma pessoa fracassada.
Este pensamento é a semente que nutre o fracasso em nossa vida. Como a perfeição não é nada além de um conceito irreal e é nela que pretendemos chegar, coisa que é completamente impossível, sempre teremos a sensação de que somos miseráveis.
E então, onde está o segredo?
Primeiramente, precisamos aprender que nada externo tem poder suficiente para fazer com que o nosso estado emocional seja um ou outro. Ninguém é mais feliz do que antes por possuir mais coisas, pelo menos a longo prazo.
Quando as crianças descobrem os brinquedos trazidos pelo Papai Noel elas parecem mais felizes, mas essa felicidade dura apenas alguns dias. Após este prazer momentâneo, as crianças querem trocar de brinquedo e deixam de lado o que acabaram de ganhar.
Acontece o mesmo com os adultos. As coisas acabam perdendo o valor ao longo do tempo, e o que obtivermos no futuro também vai perder valor. O ser humano acaba se adaptando e a adaptação faz com que qualquer coisa torne-se normal.
Por que Michael Jackson, com uma mansão que, além de tudo era um parque de diversões, era mais infeliz que Pepe Mujica, que vive em uma chácara?
E a segunda coisa que precisamos ter em conta é que a real felicidade, o bem-estar ou como queiramos chamar, está dentro de nós e consiste em uma forma de ver a vida, na qual se aprecia e se ama o que se tem agora , sem precisar de nada mais. É que o psicólogo Rafael Santandreu denomina como “bastantidade”: a capacidade de percebermos que o que possuímos é suficiente e que realmente não precisamos de mais nada.
Por último, um bom exercício é renunciar conscientemente a quase tudo e estar disposto a viver sem isso. Posso tentar cumprir meus desejos, mas aceitando que talvez nunca os alcance e que isso não tem por que repercutir no meu bem-estar pessoal.
A aceitação da vida da forma como ela vai acontecendo é um dos segredos mais importantes para nos sentirmos livres.
Você pode até pensar que isso é conformismo, mas não é assim. O que propomos é que você tenha desejos, motivações e objetivos. Que tente alcançá-los, mas sempre com a ideia esmagadora e real de que nada disso vai fazê-lo mais feliz, e de que se por acaso você não alcançar a meta definida, é porque não precisava dela.
Fonte indicada: A Mente é Maravilhosa