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Tomar banho é dessas experiências simples cotidianas que encerram em si mesmas a mágica capacidade da transformação energética, a possibilidade de uma pausa nas dores psicológicas e a oportunidade de purificação do corpo que se livra dos odores físicos, ao mesmo tempo em que renova forças, por meio do relaxamento emocional; é uma redenção.
Há períodos da vida em que nos vemos absolutamente absortos em rotinas alucinadas de trabalho, ou sobrecarregados pela falta de recursos financeiros, ou ainda, desorganizados em função de alterações significativas em nossas vidas.
Aquelas épocas em que ficamos tempo demais às voltas com obrigações intransferíveis e tempo de menos disponíveis para humanizar nossos dias. Todo mundo já passou por isso, seja em maior ou menor escala.
Tomar um banho, nesses casos, é aquele luxo mínimo e indispensável para nos garantir ao menos alguns minutos a sós; momentos preciosos de silêncio e solidão escolhida.
Apaga-se a luz, coloca-se uma música boa para tocar, escolhe-se um sabonete que nos faça sentir confortáveis, energizados, relaxados ou, simplesmente com um cheiro gostoso, separa-se a melhor toalha do armário… e parte-se para aquele instante sagrado do dia.
Tomar banho… um banho assim, com ares de ritual egípcio, deveria ser um direito humano garantido por lei. É o mínimo que cada um de nós faz por merecer depois de um dia de lutas, gloriosas ou nem tanto.
Tomar banho junto com alguém que a gente ama, então… Ahhhh… essa é das experiências mais íntimas e deliciosas a que temos acesso, quando temos a sorte de viver relacionamentos inteiros e intensos, a ponto de ser um prazer compartilhar o corpo e alma debaixo do chuveiro ou imersos na mansidão de uma banheira.
E seríamos muito tolos se não nos entregássemos a essas maravilhosas surpresas da vida, porque elas são como pequenos cristais pendentes naqueles lustres maravilhosos de castelos de sonho. São esses momentos de rara conexão, com a gente mesmo e com o outro que fazem a vida ter sabores únicos e inesquecíveis.
Porque a vida, meu amigo, a vida é feito um banho quente com aquela gotinha gelada pingando de vez em quando. A água quente é o prazer da vitória, o gozo da entrega, a embriaguez maravilhosa das coisas lindas que nos fazem querer provar do mesmo de novo, e de outros mais umas mil vezes. E a gotinha gelada é para nos lembrar da nossa natureza volátil e transitória.
A gotinha gelada é o despertar, para que nunca nos esqueçamos do valor das experiências simples e transformadoras, sem as quais somos apenas aquela gente cansada e atarefada que de tanto viver focada apenas nas batalhas, esquece que para manter a alma forte é necessário uma boa dose de redenção.