Imagem de capa: Alena Ozerova, Shutterstock
Logo eu, errando no português e nas escolhas do amor…
Fui intensa, me entreguei dos pés à cabeça. Fui chata, ranzinza e reclamona. Fui segura, confiante e persistente. Fui determinada. Fui feliz, sorridente e alegre. Fui exemplo do que muita gente gostaria de ter sido – ou tido. Fui sincera, compreensiva e insistente. Fui verdadeira comigo e, sobretudo e todos, com você. Fui safada, respeitosa e carinhosa. Fui alguém para ninguém colocar defeitos. Fui menina, fui mulher. Fui tudo o que você sempre quis ter ao lado. Fui corajosa, guerreira e firme. Fui decidida, incisiva e forte. Fui ciumenta, possessiva e completamente apaixonada. Fui boba. Fui honesta ao que eu sentia. Eu fui, mas literalmente, você estagnou. Parou e eu continuo seguindo em frente.
Sabe aqueles sonhos idealizados antes de dormir? Bom, não fui perfeita, mas tenho certeza que fui muito mais do que você merecia. Tomei as suas dores, e também peguei culpas daquilo que eu nem fazia ideia do que era. Eu fui aquele desejo carnal de tanta gente que quer fazer amor, e não sexo. Eu fui a sua manhã, tarde, noite, madrugada, segundas-feiras, finais de semana, domingos tediosos e feriados. Eu fui presente, e não cheguei a ser seu futuro. Eu fui disponível, interessada e preocupada. Eu fui mais do que você imaginou que um dia teria nas mãos, e deixou escapar pelos dedos…
Fui corpo, alma e coração. Fui meiga, selvagem e impulsiva. Fui na cama, no sofá, no carro, no chuveiro, em ambientes externos e internos. Fui profunda, mas você tem uma superfície rasa. Fui pular, mas você estava de braços cruzados. Fui te beijar, mas você só retribuía com selinhos. Fui de quatro, você me pediu conchinha. Fui de ônibus, de metrô, de bicicleta e iria de avião, mas os endereços que me passava eram inexistentes. Fui com sede ao pote, mas tentei ser cautelosa. Fui com vontade, com tesão. Fui porque era você, porque eu estava curiosa. Fui para fazer dar certo, mas você sempre foi um erro.
Burrice minha não compreender os sinais da vida. Mas no fundo, acreditamos em melhorias ou mudanças. Nos iludimos, perdoamos e jamais queremos enxergar a realidade. Fechamos os olhos para o que está sendo esfregado em nosso nariz, para o que não é conveniente. Mania de querer facilitar, e acabar complicada. Fui uma pista, uma estrada, que você pisou e passou por cima. Fui o seu brinquedo, o seu parque de diversões. Fui o seu plano B, C e Z, mas nunca o A. Fui cega, surda e muda. Fui santinha, quando eu deveria ter sido o diabo. Fui a sua paz, o seu sono tranquilo e o seu café da manhã na cama. Fui tanta coisa, para alguém que nunca foi nada.
Eu dei amor a quem não merecia. E não foi apenas uma vez, foram duas, três ou mais. Costume imprudente de tentar comandar a flecha do cupido. De não esperar o tempo certo para acontecer as coisas e avançar o sinal vermelho. Dedo torto o meu. Talvez, se eu deixasse a vida me apresentar alguém que valha a pena, eu não teria mais uma tentativa fracassada. Não que eu esteja carente ou desesperada, o problema é que eu ainda acredito em pessoas. Acredito em palavras e no poder de cada uma delas. Acredito no que me dizem, no que prometem e no que me mostram. Acredito na bondade, nos reais interesses e na lealdade. E por acreditar tanto, é que eu deveria ser muito descrente.
As pessoas não são como demonstram ser. São exatamente como são. Demoramos um período para nos adaptarmos e para conhecê-las. Um detalhe, um físico, um cheiro ou uma cantada atraente, não são mais fatores influentes para mim. Eu aprendi, de uma vez por todas, que oferecemos o que temos e recebemos o que merecemos. Portanto, como vou exigir de alguém, o que a minha ansiedade não conseguiu esperar? Agora é tudo no tempo certo, com calma e sabedoria.
Pensando dessa forma, posso afirmar que eu não amei coisa nenhuma. Se fosse amor, não teria sido. Continuaria sendo…
Foram apenas casos, desse grande acaso chamado vida.