Entre não ter medo e ter coragem, escolha ter coragem

Imagem: Captblack76/shutterstock

“Não, eu não queria estar nessa festa. Tudo aqui é tedioso. Eu não gosto de segurar vela e cá estou sobrando, com cara de paisagem. Eu não queria ter que conversar com o estagiário do RH, mas por uma triste coincidência do destino é ele que está vindo em minha direção”.

Eu acredito muito na força do pensamento. O pensamento é poderoso e tudo que foi criado pelo homem no mundo físico nasceu nele. E quando digo criado, não falo apenas de coisas, mas de situações também.

Em 1980, um professor da Universidade de Harvard, Daniel Wegner, iniciou um estudo para entender o que acontecia com as pessoas quando elas tentavam NÃO pensar em algo. Wegner criou até mesmo uma teoria intitulada “Teoria dos processos Irônicos” na qual resumidamente ele chegou à conclusão de que nosso cérebro não compreende bem a negação.

Wegner percebeu que ao tentarmos não pensar em seja-lá-o-que-for acabamos ativando a ideia da própria coisa que existe em nossa cognição. A razão disso é que nosso cérebro associa pensamentos com imagens e o “NÃO” não é captado como uma.

Logo ao NÃO desejarmos algo acabamos caminhando na direção desse algo não desejado. Então se eu pensar: “Não tenho medo” ativo em mim a ideia do medo e não da coragem, como desejei à princípio.

Para bom entendedor meia palavra basta, e nosso cérebro é um ótimo entendedor. Então passamos a trazer, inconscientemente, para nossas vidas tudo aquilo que NÃO queremos. Arranjamos o emprego que não sonhamos, o relacionamento que não desejamos, os afazeres que não suportamos e vamos tocando nossa vida carregando nos braços tudo o que não nos apetece.

Quem assistiu à animação “Kung Fu Panda” certamente lembra da cena na qual o ganso mensageiro Zeng vai até a prisão Chorh-Gom para certificar-se que o antagonista Tai Lung não escaparia e com isso deixa lá uma pena sua, que é usada por Tai Lung para, ironicamente, escapar. A ação para certificar-se que o Leopardo não escaparia, propiciou o contrário. E é assim também conosco.

A boa notícia é que mudar nossa forma de pensar é trabalhoso, mas não impossível. Então podemos imaginar diferente com um pouco de treino e disposição.

Logo, ao invés de pensarmos “Não quero chegar atrasado”. O ideal seria “Quero chegar na hora”. Ao invés de “Não quero um emprego longe de casa”. O ideal seria “Quero um emprego no meu bairro”. No campo dos relacionamentos também podemos pensar diferente. Ao invés de “Não quero um namorado ciumento” podemos pensar “Quero um namorado compreensivo”. Ao invés de pensarmos “Não quero sofrer mais uma vez em um novo relacionamento” podemos pensar “Quero encontrar alegria e paz em uma nova relação”. Ou ainda, ao invés de pensarmos “Não quero ficar doente”, o melhor seria “Quero continuar saudável”.

Eu sei que é muito fácil listar aquilo que não gostamos ou que não queremos em nossa vida. Esse princípio da negação, muitas vezes, parece estar intrínseco em nós como um vício mental, mas é muito importante que a gente coloque em nossa mente, de forma afirmativa, tudo de bom que realmente queremos e merecemos. E um ótimo ponto de partida para nos ajudar com isso é fazer uma lista das coisas que realmente desejamos em vários aspectos da nossa vida. Tudo bem detalhadinho.

Do contrário, corremos um sério risco de, inconscientemente, trazermos para nossa realidade o indesejável e, para isso, quase sempre, costumamos dar o fatídico nome de destino.

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Vanelli Doratioto é especialista em Neurociências e Comportamento. Escritora paulista, amante de museus, livros e pinturas que se deixa encantar facilmente pelo que há de mais genuíno nas pessoas. Ela acredita que palavras são mágicas, que através delas pode trazer pessoas, conceitos e lugares para bem pertinho do coração.

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